segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Vidinha - Rônei Jorge e Os Ladrões de Bicicletas

Um impulso nervoso agora me fez vir confessar, como no cristianismo, a esta folha em branco que mesmo antes de começar a escrever não me parecia tão “em branco” assim, estava cuspida de ideias e breves pensamentos metafísicos, todos espalhados, descontínuos, flutuantes e assim permanecerão.

Escrevo-te logo sobre a figura de linguagem para que notes, de cabeçalho, o conteúdo intimista do que se prosseguirá em algumas poucas linhas, conteúdo avulso, embaçado, etéreo e não seria pecar por exagero se disseres que fora originado por influências piegas, nunca neguei ser Pierrot.

São sinapses químicas constantes e que me martelam psicologicamente para me reproduzir no meu diário nada secreto, não sei se é dor, amor, sinônimo, libido, umedecimento das genitálias ou quem sabe seja apenas som.

Sei que ando me martirizando, como membro da Opus Dei, por estar sem objetivos e metas, isso quase soa como piada nos ouvidos dos que, de nascença, tem um histórico de fracassos e óbitos, mal sabem que não sou competidor.

E, por falar em competição, nossa luta de gladiadores com armas nas mãos a destruir os sonhos alheios, há a ferocidade do dia-a-dia, as cobranças rotineiras e por menos hipócritas que sejamos em algum lugar existe uma ou duas ideias de felicidade ou liberdade associadas com condições financeiras, nossa prisão.

Nosso primeiro cárcere é a confortável cavidade uterina materna que em 9 meses torna-se mais do que desconfortável e,  logo depois, uma incubadora quentinha seguida da impenetrável e inescapável fortaleza de quatro paredes que denominamos “lar, doce lar” e começa-se o ciclo vicioso das regras, coisas compactadas em: escola, universidade, trabalho e casamento, agora sim, cidadãos-modelo.

Um troco magro todo fim de mês, conhaque, a depressão que vem com o álcool, o chocolate, a cafeína e a nicotina para nos dar uma efêmera euforia e nos matar por entupir as veias cardíacas, destruir nosso estômago ou termos câncer de pulmão para no fim colocarmos a culpa no sistema. Querido, chocolate nunca vai te amar como tu o amas, cigarro não trará ninguém de volta, beber coca-cola não é a solução e quando se toma Doril, porra de dor nenhuma some!

Não, Dr. André Newman, nenhum de nós sabe o que quer, nós somos os desejos dos outros tatuados nas nossas cabeças e olha só como mudam! Quando criança, eu queria ser chamado de Hércules e ter superpoderes, hoje meu sonho é fazer um ménage e passar no vestibular, mamãe disse que tenho de ser alguém na vida, responda-me: “Já não o sou?!” E isso não é crise existencialista de adolescente, é só aplicar no contexto e “voilà!” transforma-se em K, constante universal, porém as pessoas negarão.

E, se Freud estiver certo quando fala que os sonhos são o desejo do subconsciente, então o nosso verdadeiro desejo só vêm à tona quando dormimos, sejam sonhos de atos deleitosos ou apenas sorrisos. Caso sonho seja interpretado de forma errônea pela polissemia da palavra, é melhor definir de vez, porque os sonhos que vocês dizem possuir estando lúcidos, esses não são sonhos, são valores, são obtenção material e mesmo que seja abstrato é o que os filmes de Hollywood fizeram você pensar.

Antes que minha miserabilidade seja mais exposta e enfim julgada, despeço-me aqui, volte sempre.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Patologia

Angústia, depressão, crise existencial, ciúmes, desconfiança, sorrisos, olhos, vícios, feedback negativo, melancolia, insegurança, essa é a geração da putrefação na adolescência.

Após uma fase de sonhos, realizações, alguns otimismos e outros conformismos do capitalismo em busca de dinheiro, nós passamos a reviver o pessimismo coletivo na adolescência, onde presenciamos adolescentes mergulhados em suas poltronas, assistindo às suas TV's entrando em um mundo que não é seu, fingindo viver uma vida que não é sua e sorrindo, porque isso é o mais importante, comendo exageradamente, como modo de compensar sua infelicidade consciente, e dando belas risadas com qualquer programa de comédia ultrapassada que a mídia nos impõe o, com certeza não morto, The American Way Of Life.

Completamente descrentes na sociedade e em si mesmos, optam por ficarem estagnados a observar a podridão do mundo e se nutrir dela, uma espécie de anti-herói se comparado com as vigorosas gerações anteriores.

São uns desmotivados, sem planos, sem ideias e, se a tua ideia de vida for algo serelepe e risonho, são mortos, não no teor filosófico, pois não são saprófagos, são os devorados, defuntos e estão bem com isso.

Levar uma vidinha mais ou menos, ter um emprego mais ou menos, uma mulher mais ou menos e o bucolismo anexado com a amargura a cada nova vontadinha que surgir de outra mulher, de liberdade, de um amor de verdade, de poder fechar os olhos e sorri. Enfim, levar uma vidinha... E tudo bem.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Alegorieuforia - Só Divirto Hienas

Era um palhaço tão engraçado, mas não tinha teto, não tinha nada e ninguém podia falar com ele não, porque o palhaço não tinha chão, porém era feito com muito esmero. Morava na rua dos bobos, número zero.

De frente para o espelho do seu banheiro e pegando o removedor de maquiagem, ele ia tirando aquele estúpido sorriso vermelho do rosto, revelando lábios sem cor, mórbidos...

Seus olhos negros, outrora verdes, iam se reconfortando com a palidez do seu rosto, achava melhor assim, preferia ser um cadáver ambulante a um cego feliz, os famosos sonâmbulos ambulantes, ele tinha olhos arregalados e não possuía pálpebras.

E era assim todos os dias, tudo sempre igual, acordava cedo e tomava o café, jogava toda a borra no lixo e começava o seu fingimento, enganava a si, aos outros e, principalmente, o sistema, pois necessitava enganá-lo para poder comprar o café e jogar a borra no lixo...

Era robótico, vestia sua bermuda folgada amarela; punha sapatos enormes vermelhos; vestia uma blusa qualquer, portanto que estivesse em farrapos para ganhar mais dinheiro, é claro; colocava o seu chapéu florido e, sem falta, maquiava-se com o seu sorriso artificial e as suas esmeraldas oculares fajutas.

Hora do show, revisava suas piadas e simulava quedas, todos riem, mas são tão infelizes quanto ele, desconfia até que riam da sua infelicidade e mostrava seu estúpido sorriso vermelho e eterno, que provinha de verme, tão infelizes quanto ele, mas também fingiam felicidade com abalos sísmicos em suas famílias, porém tinham que sorrir para os vizinhos e mostrar suas máscaras cheias de cera.

Era um dos milhões de palhaços tristes, mas o único consciente, era um bobo da corte e ganhava dinheiro por “criar” felicidade, mas isso se restringia à teoria, pois na prática nada se perde, nada se cria, tudo se...

Banhava-se com melancolia e bebia tédio, descobriu que somos a merda ambulante do mundo e que a felicidade, tanto quanto a democracia, é utopia e que dinheiro não a trazia, mas diminuía a infelicidade, pois sem ele não tomaria o seu café e não jogaria a borra no lixo...

Era um palhaço e tinha que sorrir para os outros sorrirem, e definhava dentro daquela estufa, onde ninguém era vegetal e nem agrotóxico.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sem título

Dessa vez eu não estou escrevendo como se deve, estou escrevendo de um jeito que está mais para embaralhar ou organizar essas palavras soltas que estão se fazendo e se desmontando na minha cabeça enquanto meu cérebro tenta processá-las, elas vão se perdendo, escapando e não são bem palavras que te escrevo, são sensações, então, dessa vez, não te preocupas se não entenderes algo, estou na mesma situação.

Lembro-me que ia falar de amor, não definição, talvez até algumas frases clichês acompanhadas de superlativos para prolongar as frases de impacto, mas acabei jogando o roteiro fora, agora é improviso. Logo, se tens algo contra pieguices pare de ler agora, vá descansar, existe coisa melhor do que análise de crise emocional; a metalinguagem acaba agora e o próprio texto começa nestas linhas:

Sempre imaginei que (é, eu não tenho ideia de como começar isso, são sensações, não palavras palpáveis) as pessoas sentem ciúmes, porque gostavam muito de alguém e queriam esse alguém só para si, questão egoísta. Parágrafo de vocábulo raso esse, não? Bem, tão raso quanto essa ideia. Tape o seu nariz, feche a boca, vamos mergulhar...

Um relacionamento sempre começa com o corpo, perdoem-me os puritanos iludidos, mas é, daí então se segue para os sentimentos, tão inebriantes e mutantes, porém esse não é o tema agora (erro textual, -4 pontos na redação, certo?), peço perdão por me desfocar do texto, sensações, palavras, ah, tu já sabes.

Retomando: Corpo -> Sentimentos -> Logo após vem os direitos e deveres, porque o relacionamento passa a ser jurídico com ameaça de prisão, solitária e, pior, cadeira elétrica. Então, os ciúmes (quase consigo ver o alívio no teu rosto, ávido por uma narração direta e nutrida), presiguemos... Os ciúmes, diferente do que muitos pensam, vêm pela ausência de amor, ou pela ausência de demonstração de amor, porque causa uma sensação de perda para um dos lados, lado esse que pensa a “amar” (na verdade, exigir) mais o seu cônjuge, que pode até se sentir sufocado por “ser posse” e, o ruim, trás benefício nenhum, pois nem IPTU se paga, enfim... Então a pessoa começa a nutrir algo (não é sentimento) cada vez mais forte, agitado e incontrolável, porque começam as obrigações, vítimas e reféns...

E o amor se torna amor idealizado (lê-se: vai dar-se início à tragédia, até porque amor sem tragédia perde a graciosidade, certo?). O amor idealizado é amar a projeção de uma pessoa que tu criaste para a (o) sua (eu) amada (o), tornando-o outra pessoa, como se mudasse os próprios olhos para deixar de enxergar as imperfeições, passas então a inventar expectativas que nunca serão cumpridas, vem às decepções, as feridas, porém (que lindo) o “amor” se mantém inabalável e, em estado crônico, torna-se amor platônico que nunca vai vir a ser recíproco, porque tu amas o vazio, o inexistente e esse não tem o amor que tu querias para te dares como recompensa.

Amar é (lá vem a definição, depreciável, pois é opinião, não fato, mas quem tem certeza na metafísica?) enxergar (não é ficar cego, não, isso é paixão) tudo de ruim em alguém e mesmo assim amá-lo.

E, por fim, existem as pessoas “imunes” aos sentimentos (os racionais? Não, esses são bem sensitivos), os indiferentes que criam uma casca para se proteger do mundo e isso reflete de maneira muito evidente as suas cicatrizes, mas ainda se fazem de fortes, esses são os mais inseguros, desconfiados e repulsivos (não porque causa repulsão, é porque repulsam), tudo por terem medo, então se enclausuram, mas não sabem que estão, assim, matando-se com as próprias mãos, sufocando-se, um suicídio lento.