terça-feira, 12 de abril de 2011

Sobre uma casa mofada

 


Cantar-te para o meu prazer.
Ferir-me para o meu prazer.
Entregares-me para o meu prazer.
Ferir-te para o meu prazer.
Enganar-me para o meu prazer.
Roubares-me para o meu bel prazer.
Enganar-te para o meu sôfrego prazer.
Ensaiar-me para o meu prazer.
Comprares-me para o prazer das minhas virilhas.
E, enfim, amar-te para só e somente o meu prazer.

“Não podemos confiar nos sentidos, porque esses são os reflexos de nossa ganância, fruto das fantasias que criamos para nos proteger do lado de fora.”

E eu, que tanto pensei que tivesse te amado e que sempre te mostrei meus atestados médicos que alegavam que eu tinha medo de perder-te, agora vejo, sorridente, que amar não é sinônimo de querer e que eu só não queria te perder, pois tinha náuseas só de imaginar o sêmen dos outros a escorrer pelo canto da tua boca, aquela que tanto beijei para te enganar e para me enganar também, enganar-nos de que amor é aquelas cenas de filmes norte-americanos com um sol poente à beira da praia até descobrir que o amor verdadeiro não tem vista para o mar.

Iludi-me com uma realidade paralela na qual o mais profundo dos sentimentos era chegar do trabalhar, ver-te a pôr o meu jantar e logo depois estar sob a escuridão de um quarto a sentir tuas pernas empurrando o meu quadril para penetrar mais fundo e ouvir os teus gemidos, enquanto eu gargalhava por dentro pela obtenção do meu triunfo de macho-alfa e, de fato, saciou-me por muito tempo até que perdi o gosto pelas tuas coxas.

Falo isso, porém não tenho certeza de que isso pode ser uma invenção de uma nova realidade que me impus por não querer aceitar a dor da tua falta e agora me forço a acreditar que não era amor... Ou se a realidade factual é aquela que me salta tão evidente, agora, na frente dos olhos... Ou talvez só queira criar essa dúvida pelo tesão que me dá a curiosidade.

Pelo tesão nasci, pelo tesão vivo.

Se amar for egoísmo, até que amei muito, não é? Até porque me satisfaço pelo teu orgasmo, não pelo meu. Não te preocupa com essas profanações que faço pra ti, deusa, saibas apenas que estou tentando te arrancar de mim e deixar somente as imagens dos urros que soltamos de prazer que foram absorvidos pelas paredes do quarto de que agora durmo, atormentam-me de vez em quando, para me enganar dizendo para todos que foi um desses romances ruins.

Tudo é ilusão e eu que tenho dever de fixar minhas raízes no nada... Minhas fantasias, meus espelhos, conseguir enxergar... E descobrir se, de fato, existo por pensar.

domingo, 3 de abril de 2011

Eyjafjallajökull




Um parafuso que se desprendeu de uma engrenagem que sustentava uma máquina que fornecia eletricidade para a cidade, ia tilintando pelo corredor e trincava o vidro que mantinha aquela sala.

Subitamente, era tudo queda, palavras em gradação, um silêncio ensurdecedor, que precedia uma tragédia cômica. Primeiro a luz, algumas fulguras disformes, algo evaporando, cheiro de enxofre, espere, estou ficando tonto, náusea, vômito, castigo e vírgulas. Armagedon de minhas veias etéreas, transposição metafísica da alma, sorvimento do universo: “Um por todos, todos por um”.

ETÍLICO!

Rouxinóis em lasers verdes, girafas com rinocerontes, planárias! Xiiiiiiiiii. Escuta o som da contemporaneidade? Óh, Clarice, distorceram-te tanto; Óh, Clarisse, você só tinha 14 anos!

Altares de exus, anjos, demônios, divindades, intangíveis no nosso antropomorfismo! Antropomorfos sistemáticos venham cá calcular as minhas sensações lúdicas, satisfaçam-me! Degustem! Devorem-me e absorvam, deem-me tesão, sanguessugas!

Plasmídeos, placentários, zoófilos, enfermos em geral, revolucionem, nós temos uma causa, nosso patrimônio!

Linhas curvas e reconfiguradas que formam o horizonte venham até mim e preencham meu ser, transformem-me em curvas retilíneas paralelas sincronizadas em uníssono pelo meu cardume, escamas, escudos, lanças!

Eu não tenho causas, esse é o problema e não bastam problemas para se obter causas, porque, aliás, estou cheio deles, porém causa nenhuma me convém, impulsa, incendia, o que for, combustão, VULCÃO!

Esparramado no chão com saliva a escorrer misturando-se com secreções nasais e enfim, Escobar, que se junta ao sal marítimo proveniente do mais leitoso cego olhar.

Pele frenética a se comprimir na minha, aperto, belisco, desperto, era um sonho.