sábado, 24 de dezembro de 2011

Um doce quase amargo

   


Quando os teus pés encontram os meus debaixo dos lençóis da minha cama, eles parecem nos guiar pra outro mundo, fugindo de tudo pra vivermos apenas eu e tu, porque o resto, o resto é de brincadeirinha. Quando as tuas mãos tocam as minhas, eu paro de tremer todo o meu corpo, eu paro de temer as dores da existência, eu paro de me assustar com as palavras tão pesadas que existem entre nós e que não precisam ser ditas para que existam e fiquem pairando por nós. Quando os teus lábios tocam os meus o mundo me parece um infinito que se cruza com o outro, tão autossuficientes que só precisam das existências deles mesmos para continuar existindo, não precisam de qualquer coisa além deles. Tu me levas para uma dimensão que eu nunca havia experimentado que é tão minha e tão segura que lá parece ser o lugar que eu escolhi para o meu descanso eterno, eu poderia morrer em você, morar em você, ser a tua respiração, ser o teu sufoco e o teu alívio, porque pra todo pedacinho de amor há, para balancear, um puxão de orelha. Então eu desejo repousar aqui todas as minhas esperanças e sonhos, todos meus tormentos e aflições, todos os meus conflitos e meus empates, porque a partir de quando tu passas a se tornar a única coisa que reside em mim, eu me torno tu, como tu se torna eu, como nos tornamos nós e pra um nós, espaço e tempo são só brincadeirinha, porque é pelo teu afago que eu vivo e é pelo teu cuspe que eu desperto, porque mesmo sendo sonhadores como nós, a gente precisa acordar no outro dia e viver de verdade, mesmo que não seja longe, porque a gente só vive no perto, o sonho é que é um longe que a gente pode alcançar se resolvermos pular até alcançar as estrelas do teto. E é assim que eu tenho medo de me dissolver em ti, porque, se algum dia, teus pés se desencontrarem dos meus, eu perderei o rumo, se tuas mãos deixarem de tocar nas minhas, eu ficarei tremendo durante toda a vida e bem, eu também não quero viver de brincadeirinha, então eu nos viverei, nos respirarei, nos morarei, nos sonharei. Assim, o balanço da rede será nosso, todo movimento da cama domínio do nosso reino, viveremos o império dos sonhos acordados! Seremos todo o sonho daqueles que agora, a esta hora, dormem e, quando estes despertarem, chegará nossa hora de dormir pra passarmos a criar os degraus da nossa realidade, pra podermos nos unir com o tudo e sermos um só, pra sempre nós. Como uma flor eterna, como uma flor que não passa pelas estações do ano, como uma flor que nem é primaveril, nem flor de inverno, como aquelas que eu te dei pra que tu estivesse perto de mim com o cheiro dos meus dedos que estão longe e nenhum mal há de nos despertar enquanto vivermos um dentro do outro, quando estivermos prontos pra nunca tirar a cabeça que a gente insistiu em mergulhar dentro do coração do outro e então brincaremos como peter pan,  mas em uma terra do sempre, e flutuaremos no nosso mundo, um mundo de leveza e doce, um mundo de leveduras e dores, puxão de orelha.