segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Circo dos Horrores


Eram alguns diabos miseráveis ao redor de uma mesinha, todos ali unidos pela bebida, a bebida era a mesma, as traqueias que eram diferentes, todos em silêncio, mal escutando aquela música baixinha, esperavam o primeiro botar a máscara no bolso.

Enquanto a garrafa secava, eles iam se enchendo daquela embriaguez que ora parecia fuga, ora expansão da realidade. Então começaram as gargalhadas, as mãos batendo na mesinha, diálogos sobre nada e tudo, o álcool diluindo toda a hesitação, os pensamentos vagueando ali e acolá, então, repentinamente, todas as máscaras estavam guardadas, as chagas expostas, as carcaças abertas, a podridão emanando das palavras e o vazio ressoando em sincronia daquelas almas imundas, porém, notavam, com ternura, que eram belas as suas feiuras.

Hipóteses, hipóteses, hipóteses, bebida e filosofia, o circo dos horrores estava aberto e para um humano entrar, ele tinha de assumir sua natureza vil, enfiando a cabeça na própria bunda. No palco, os diabos expondo e destruindo todas as ilusões, começou o show de aberrações: “Olhemo-nos nos olhos, nós, seres hiperbóreos”.

Cada um carregando seu pesar, sua fantasia, um traje de humano que não lhes cabiam no corpo todo... Eram caramujos fora das cascas e não mais se encolhiam perante o mundo, desafiavam-no com suas palavras afiadas e, caso algum cristão lhes aparecesse dizendo que a porta do inferno estava aberta, eles eram capazes de dizer que eram augustos-anjos entediados do paraíso ou até mesmo o convidasse para tomar umas doses com o capeta e ririam da própria amargura.

Agora, saindo do barzinho já com a metade do rosto coberto pelas máscaras que insistiam em voltar, iam caminhando tortos e tropeçando nas próprias ideias, cabeças tontas, bêbados cambaleantes na Avenida 13 de maio, falando a primeira coisa que lhes perturbasse a mente, cada um para seu destino até que esse lhes oferecesse bebida e os unisse novamente. Iam para casa agora, voltar às suas vidinhas de merda, como diabos domesticados.

Enfim, unidos intimamente, seres inacabados em progresso, a bebida que antes diluíra, agora fazem de suas entranhas um lugar em comum onde partilham suas inebriedades, filhos paridos da mesma puta.