Descobri a gota que sou, luto pela vaidade e reconhecimento alheio, logo eu, um defensor do meio-ambiente e anti-capitalista que entra em sala de aula com um sorriso fazendo pré-julgamentos, comparando os outros a pedaços de merda e me enaltecendo perante a eles, pobre de mim que sou frustrado com a minha incapacidade de me aproximar deles, prefiro dizer que os problemas são os outros quando esse pedaço de bosta que exala um cheiro ruim sou eu, mas eu não quero que descubram que o odor é meu, então ponho toda a culpa no ralo, que está entupido, porém somente eu uso aquele banheiro e toda a merda é minha - “A vida é dura”.
Acabo pensando que nunca gostei de alguém de verdade, vivo em relações de merda, nunca amei os defeitos de ninguém e, quando os percebo, saltam-me à face como em alto-relevo e começa tudo de novo, o desgaste, o enjoo, o empate, o sufoco... No fim, todos temos feridas incuráveis e que têm cheiro de decomposição, mas as escondemos e colocamos perfume – “O homem é o deus do conforto”.
Sou o estranho e imbecil do capitão do time de futebol americano, mas sem a popularidade do mesmo... E todo o meu amor vira bunda e faço qualquer coisa por ela, as mesmas bundas que vão entupir de merda os ralos de outras casas, talvez até piorem o estado da minha... – “O ralo me trouxe a bunda, um presente do inferno”.
Já nem sei por que luto para a minha vaidade e o reconhecimento alheio, não sei o que eu vou ganhar, nem mesmo sei se quero ganhar, sei que eu luto porque não tenho mais porque lutar, minha vida me satisfaz e todos nós temos a podridão de querer aumentar o ego brincando de admiração com aqueles que habitam o nosso ralo... – “Eu não me importo com ninguém, só não quero que eles pensem que o cheiro do ralo é meu”.
O encanador cobra caro para o concerto e preferimos guardar o dinheiro e só tampar aquilo com cimento, pondo várias camadas pra acabar com aquele cheiro horrível, mas um dia o cimento cede e o ralo volta a respirar, acabamos sendo tragados pela própria bunda que fez a merda... – “A culpa toda é do cheiro do ralo”.
Tudo para recolocar a culpa da nossa frustração nos outros, fumando um cigarro e rindo... – “Os convites já estavam na gráfica! O que os outros vão pensar?”