Com as pernas
meio bambas, as pálpebras pesando mais a cada piscada, o corpo quase inteiro
relutando para dar o próximo movimento, a sua roupa agora amassada, mas você já
não se importa mais, os botões fora do lugar, a braguilha entreaberta, os
cabelos bagunçados, enfim, ao fim do dia, o aprumo e o zelo dedicados à
aparência pela manhã já perdera o ar encantador e jovial que tinha.
O andar
vacilante de um embriagado de ideias que tropeça sempre nos mesmos pensamentos
mórbidos que aparentavam, até então, insolúveis.
Porém, o que
nunca desleixa, nem vacila, o que não tropeça, nem se cansa, são esses olhos
nervosos, sempre cheios de energia, que procuram incansavelmente as respostas
que nunca estão lá, então olha ali, aqui, acolá e mais distante sem nunca achar,
mas sempre carregando aquela esperancinha de encontra-la em uma esquina, numa
boceta ou n’outra dose de tequila, chegando a extremos de esforço e dispêndios
de vitalidade exagerados, mas nunca o suficiente para parar os olhos que
procuram ou frear esse torpor de pensamentos de esperança. Esperança essa
constante, tão ingênua quanto angústia, que nunca para, que nunca pode parar,
porque sempre você pode estar perdendo a Coisa, a Coisa que você nunca teve na
verdade, que nunca acha, mas a quer, mais e mais que qualquer outra... coisa,
porque parar é a própria morte e viver, correr atrás, movimentar-se, busca-la é
viver e, não que eu sinta a vontade de parar de perseguí-la, mas acho que eu
deveria aprender a morrer um pouco mais, até porque por leitura e vida, eu sei
que a Coisa que completa não está em nenhuma coisa, restando a todas as coisas
somente outro jeito de morrer particular a cada uma e, de tanto acumular
pequenas mortes, logo há de se aprender a aproveitar até a própria morte, mas a
promessa me é muito tentadora...
De flor em flor, os beijos de quem quer ser fênix.