Traga o dinossauro Barney de volta, quero sacolejar os meus braços de novo e não achar isso bobo, desentender porque os adultos estão rindo de mim se eu estou sendo o mais legal da minha velha infância.
Eu soltava pipa e tinha medo do confronto com as demais, demoravam séculos para construí-la e porque arriscar perdê-la se ela era o único motivo que me fazia gostar de acordar cedo? Quero o pé de jambo de volta, correr com medo das ameaças da Dona Íris de jogar água quente.
E eu que me achava tão fraco por chorar depois de ralar o joelho... Tira essa conta de aluguel, porque cá estou eu a pintar o meu nariz. Correr sem medo de tropeçar, dançar como for sem medo do vexame, querer crescer, porque hoje eu só quero diminuir e a única vontade de pular é daquela ponte para o mar...
Cá estou eu a mendigar a minha infância, enquanto eu tomava leite para crescer forte e sadio... Queria eu saber os segredos da puberdade junto com os meus amigos, agora que crescem as barbas queremos os segredos da infância, mas dessa vez estamos separados.
Reconhecer-me-ia a se esconder nas ruas quando hoje eu flerto nelas? Dar-me-ia um doce ao invés do cigarro. Era um pássaro livro, contrastando que agora vivo a pedir as pessoas as penas para conseguir voar novamente. Eu ainda sou uma criança que anseia a história e o beijo de boa noite, mas hoje as histórias terminam em tragédias e os beijos de boa noite dizem silenciosamente: “talvez eu não o veja amanhã”.
Quero minha colher com danone e poder lambê-la embaixo, quero dizer adeus aos assaltos. O meu amor era só de pai e mãe, agora tenho que lidar com a dor. Peço perdão pelas campainhas apertadas, Deus, mas agora já podes me devolver a vida.
Quero pintar o sol com um pincel azul, roubar a cor da estrela para mim e perguntar como ela consegue ser só e brilhar tanto, então talvez eu cale a solidão, parar de mostrar os músculos quando só tenho os ossos e deixar guiarem a minha mão.
Quero parar de ser testemunha dos suicídios dos meus amigos. Quero parar de ser testemunha de suas partidas.
Quero poder dançar e não ter os pés esmagados, mas esmagar os de outra pessoa, porque eu não sei guiar nessa dança e não sei pra onde ir. Quero ver as luzes de natal e ficar boquiaberto, esperar o Noel entrar pelo teto. Largar esse vinho e ter de volta ao mingau, ajudar a pintar a casa e me sujar de tinta, não de monóxido de cálcio, quero desaprender para reaprender a vida, segurar na mão, não bancar o corajoso e percorrer a trilha.
Eu cresci duzentos anos, mas dá saudade de ter onze...