Eu sinto como o fluxo das
águas correntes de um rio e sigo seguindo o ímpeto da correnteza como boia na
praia, deixando-me ser guiado pela própria natureza, experimentando todas as
sensações que me são propostas no caminho, uma absorção de mim em mim.
Convido-te, então, a participar da minha cachoeira e
aproveitar a vista na queda, mas tu és manancial e me propões as mais jubilosas
e grandiosas sensações junto ao deleite do teu colo, porém tens medo da minha
sede e me convida devagarinho, tropeçante e vacilosa, com o olhar de quem quer
e a língua de quem pestaneja, porque tu não se deixas entrar no fluxo e
deixa-se levar pelo conflito, a confusão e as causas banais.
Um espírito tão bonito, mas cansado de tanta luta, de
tantos olhares, de tanto sangue e da sujeira dos dizeres alheios, deixe-me
limpar as suas asas e deite-se vagarosamente, deite-se livremente, deite-se
facilmente, mas deite-se em mim. Vá para além da calma e do horror, além da
alma e da dor, tão e tão e tão além do amor e do pavor, então siga o fluxo e se
liberte correndo com o mais intenso dos sentimentos de plenitude, correndo com o
mundo, as pessoas, a cultura e a incompletude que sempre existirá em todo
canto, corra e não tenha remorso do que fica para trás, arie-se e dance comigo,
seja na avenida duque de caxias, ao som de Beatles encarando os olhos ou em um
quartinho no Meireles.
E eu te pergunto, com o tom mais ingênuo das
perguntas, por que tu insistes em fincar os teus pés nos espinhos quando tem
asas? Ponha-se a voar nesse céu, a pousar nesse mar, não em voo vadio e sem
destino como perdido na imensidão, porém com o compromisso de se desprender dos
significados fantasmagóricos que damos a tudo para enfim conseguir aceitar e
compreender a beleza das coisas por elas mesmas.
Eu sinto como escutando o som desse rio enquanto ele me leva por entre as palavras do teu texto. Ele tem uma beleza leve, fácil de voar e ao mesmo tempo tão profunda a ponto de mostrar um pouco de ti, como uma poesia que fala do seu poeta vendo o coração e a alma, com a liberdade das águas de um rio e das nuvens do céu. Você é poeta mesmo que não saiba mas, a sua poesia sabe. Acho que ainda não vi texto que falasse melhor do quanto é bonito se deixar levar, correr e voar. Que a gente encontra espinhos e sangue que machucam nossos pés, sujam as nossas asas e querem impedir que elas nos ofereça a beleza do vôo. Mas que ainda assim é bom voar, e pousar, deixar que as asas sejam limpas e as feridas causadas pelos espinhos sejam cuidadas, pra que continue esse vôo sensacional que é apreciar o que a vida tem a nos mostrar. "correndo com o mais intenso dos sentimentos de plenitude". De quem no final das contas, tem um pouco de cachoeira e de manancial x)
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