quarta-feira, 4 de junho de 2014

O Vento de Dylan


Eu escrevo pra, no máximo, meia dúzia de pessoas em um blog medíocre e isso não vai mudar o mundo, muito menos a realidade de outra pessoa, mas quem sabe, quem sabe...

Tenho estado muito exausto dos ponteiros, de ter que acordar todo dia e ir para um terminal de ônibus, onde as pessoas parecem mercadoria, enfrentar o trânsito, escutar que o dinheiro tá pouco e ir cumprir minhas obrigações na prisão que eu mesmo escolhi pra mim e que todo mundo tem que escolher, mas eu deveria compreender, bem que deveria, porém todo dia um animal urra dentro de mim e arranha a minha alma até sangrar, mas eu tenho que me conformar, bem, pelo menos, é o que me resta a fazer... Let me forget about today until tomorrow.

E não é que eu esteja insatisfeito com o decorrer dos dias, mas é que as horas passam tão rápido e eu penso tanto em estar perdendo algo que eu não... The answer, my friend, is blowin’ in the wind, the answer is blowin’ in the wind. E essa passividade que vai tomando conta de mim é que me amedronta e o medo de que a vida seja uma sessão de cinema que eu dormi o tempo todo e só acordei nos créditos... Tudo no cinema é muito bonito e quase sempre tem pipoca, mas nós não vivemos em um filme do James Dean, vivemos?

It ain’t no use to sit and wonder why, babe, even if you don’t know by now, an’ it ain’t no use to sit and wonder why, babe, It’ll never do somehow. E a poeticidade que corria cada vez mais fluente nas minhas veias, agora parece mais seca e fria do que nunca, palavras fracas, pensamentos frouxos, nada de se pintar em parede ou do espírito jovial e fácil de antes. Não sei se o Poe me matou ou se eu mesmo, mas hoje minhas mãos queimam e minha mente deseja sem poder... And if my thought-dreams could be seen, they’d probably put my head in a guillotine, but it’s alright, Ma, it’s life and life only.

E hoje eu ainda nem acordei já querendo estar dentro d’uma música do Bob Dylan e limitar a minha existência a uma repetição infinita de duas ou três faixas... Because something is happening here, but you don’t know what it is, do you, Mr. Jones?

Os dias todos correndo pra dentro de uma caixa que os meus braços não... E o meu cabelo esvoaçando ao vento para um lugar onde eu nunca... Estar perto não é físico, mas o quanto um corpo faz falta... A falta do teu cheiro, a falta do teu riso, das tuas implicâncias, e em uma hora como essa, talvez tudo dedicado a outras pessoas, enquanto estar perto nem é físico, nem virtual, mas apenas  telefônico e onírico. She takes just like a woman, yeah, she does. She makes love just like a woman, yeah, she does. And she aches just like a woman, but she breaks just like a little girl.

E cá estou eu tentando passar os dias pesados com as plumas restantes dos dias leves, esperando só tu vir devagarzinho no meu ouvido e sussurrar:  “Come in”, she said, “I’ll give ya shelter from the storm”.

sábado, 17 de maio de 2014

Sobre uma ausência fixada

Queria eu poder arrancar do peito essa coisa viva, pulsante e amórfica que tu criaste dentro de mim e, desde quando existe, faz-me um incômodo e um bem-estar que estão sempre a se devorarem, como um eterno conflito interno, e ora uma domina a outra, ora a dominadora é dominada, porém resistem dentro de mim como se os meus anticorpos não conseguissem expulsá-los, por mais autodestrutivos que me podem ser e meu corpo parece gostar do estrago, mas vai além de, porque no, tudo é, como sempre, mas as vezes nunca, tanto quanto, então o e nada além impedir-me-á,

Detestei o jeito que você me pôs nessa grande casa, mas adoro morar aqui, o que me incomoda é o teu jeito de sempre ver as chamas onde não há, tu começando um incêndio com a tua própria cabeça, destruindo, assim, a minha liberdade em escolher ser escravo, não quero carta de alforria nenhuma e, mesmo que chegasse a aceitar, eu nunca sairia do conforto das tuas meias, desejando o todo por uma migalha só, um jeito de ver sua ambição bem de perto,
Longe, em um mundo onde a gente não precisa sangrar para os outros verem o que há dentro de nós, é o lugar onde a gente pode viver de verdade e lá, eu voltarei para os seus braços, porque eu não sou nada fora deles, eu não existo fora daqui, porque o mundo de ficção também é real e o nosso conto de fadas não tem um fim determinado, porque somos nós quem o escrevemos e ainda estamos apenas no rascunho, quase todo manchado de corretivo e borrado quando a tinta de caneta ficou em excesso,,,

                É relevante dizer que, como não se trata da nossa fútil realidade, a gente pode reescrever o conto, apaga-lo e começar/terminar onde quisermos sem, necessariamente, precisar de um começo para se ter um fim e vice-versa, mas nunca é ponto final e sim vírgula,

                E, enquanto não é real, nem concreto, é indestrutível, mas vem acompanhado do amargo “quase-arrependimento” do “e se?” e é por isso que as pessoas (eu) sentem tanta necessidade de viver para saber o que é ou o que deixará de ser, porque, todos (nós), queremos um amor: seja bom ou seja amor,


                Também não sei se o que venho a  te falar são mentiras sinceras ou seriedades fajutas, mas não há aposta sem risco e, CA-RAM-BA, como você me julga pela casca que eu uso para me proteger do mundo, SIM, os eus me dominam e eu estou tão sujo, mas tu é a luz pra me tirar da escuridão que eu mesmo criei para me proteger, mas tenho tanto medo de me absorver, sim, um farol para um desesperado, mas desespero de quê? Da falta de luz, sim, agora eu consigo ver, assim, com as pupilas dilatadas desses que foram fuzilados de realidade, mas também já me certifiquei de que tu tem a luz necessária e é a ÚNICA que pode me salvar de mim mesmo, então serei teu eterno vassalo, ensina-me a respirar,,,

segunda-feira, 28 de abril de 2014

A fome dos olhos


Com as pernas meio bambas, as pálpebras pesando mais a cada piscada, o corpo quase inteiro relutando para dar o próximo movimento, a sua roupa agora amassada, mas você já não se importa mais, os botões fora do lugar, a braguilha entreaberta, os cabelos bagunçados, enfim, ao fim do dia, o aprumo e o zelo dedicados à aparência pela manhã já perdera o ar encantador e jovial que tinha.
O andar vacilante de um embriagado de ideias que tropeça sempre nos mesmos pensamentos mórbidos que aparentavam, até então, insolúveis.

Porém, o que nunca desleixa, nem vacila, o que não tropeça, nem se cansa, são esses olhos nervosos, sempre cheios de energia, que procuram incansavelmente as respostas que nunca estão lá, então olha ali, aqui, acolá e mais distante sem nunca achar, mas sempre carregando aquela esperancinha de encontra-la em uma esquina, numa boceta ou n’outra dose de tequila, chegando a extremos de esforço e dispêndios de vitalidade exagerados, mas nunca o suficiente para parar os olhos que procuram ou frear esse torpor de pensamentos de esperança. Esperança essa constante, tão ingênua quanto angústia, que nunca para, que nunca pode parar, porque sempre você pode estar perdendo a Coisa, a Coisa que você nunca teve na verdade, que nunca acha, mas a quer, mais e mais que qualquer outra... coisa, porque parar é a própria morte e viver, correr atrás, movimentar-se, busca-la é viver e, não que eu sinta a vontade de parar de perseguí-la, mas acho que eu deveria aprender a morrer um pouco mais, até porque por leitura e vida, eu sei que a Coisa que completa não está em nenhuma coisa, restando a todas as coisas somente outro jeito de morrer particular a cada uma e, de tanto acumular pequenas mortes, logo há de se aprender a aproveitar até a própria morte, mas a promessa me é muito tentadora...
De flor em flor, os beijos de quem quer ser fênix.