sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Morte

A pérfida tragédia última
Corrói a vastidão do ser
Corrompe seriamente a lástima
Atrai o aclamado anoitecer

O epitáfio me espera
A tumba, uma pantera
Guardiã do primeiro verme
Que penetrará a suja pele

Divino és tu
Espírito azul
Incandescente ao luar
Com gula, irei provar

Emético penar
Queimação do esôfago
Faz-me escarrar
Aqueles tantos corpos, misturados a óleos.

domingo, 22 de agosto de 2010

Plá-Plá-Plá, porque tenho problema de dicção


Letras, letras, letras. Infestação de letras, frases, parágrafos, que preenchem linhas vazias, conjuntura da atualidade, imponência pacífica, plenitude animal.

Guerras, estrofes e versos, batalhas e batalhões. Lero, lero, blá, blá, blá... Cuspe leitoso, verde asqueroso, são palavras, misturas, soluções semelhantes às canções. Distúrbios, surtos. Corredor, sova. Polônia, país, lugar, pessoa, objeto, papel. Papel, árvore, Canadá, jornal.

Junto, tudo junto. Unidos por ramificações. Ramificações de palavras-letras, galhos enfeitados com palavras, palavras dispersas em galhos secos e que caem. Folhas nutridas de lã, folhas batidas no pé. Garoto correndo na pipa do mundo, Pelé bate no pé. Tuntz tuntz, rola o som do paredão. Tuntz tuntz, crianças morrem no Paquistão.

É Guerra, é pedra, é o fim do caminho. Há uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho há uma pedra. Obstáculo. Vida. AIDS. Destruição. Autodestruição. Lei da sobrevivência natural das espécies. Classificações, não passam disso. Humanos, não entendem, mas classificam. Classificam em folhas, jornais, livros, mentes, é tudo questão de ponto de vista. Interpretação pessoal.

Palmas, palmas, mãos batidas, pés atados. Cruzes, credos, pregos e espinhos. Realidade? Ressuscitou? Ó, meu amor, jure que volta daquele cortiço, de lamas, de pedras, de fins dos caminhos, vermes, vermes, decompositores, larvas, larvas recém-nascidas. Assustam já na infância. Flor de Lótus que brota no chorume invade-me o nariz, não deixei, é estupro. Processo... Por tudo se processa, processando... Analisando. Não analisa. Para com isso. Neurose apoplética.

Almas, almas, almas penadas e andantes. Almas, almas, almas tão fétidas como dantes. Dante... Inferno, Céu e Purgatório. Inventor dos pecados primordiais. Dante... Dante... Dante... É só um amante, amante da amada, amante das letras, amante do sucesso e ganância, é um pecador? Mostre-me um santo, então. O pecador é assim chamado, porque decidiu viver como os poetas do carpe-diem queriam que vivêssemos, viver é pecado, mas nem os próprios viveram assim. Por quê? Por quê? Querem que façamos o que não têm coragem de fazer. Covardia. Cobardia. Lei. Penha. Prenha. Superpopulação.

Toc, toc... Há alguém aí? Pacientes com coma alcoólico, padres que roubaram dinheiro dos fiéis, estupradores, covardes, ladrões, pedófilos... Alanis? Está aqui, está conosco e muitas delas ainda estão vivas, cuidemos, evitemos. Respire, são só ideias aleatórias. Não acompanhe. Leia no ritmo. Toc, toc... Alguém aí está?

Onde estão os seres humanos? Sou ser humano? Somos seres humanos? Humano é espécie em extinção, devemos ser chamados de máquinas ou até mesmo marionetes. Os seres humanos que eu ouvi falar pensavam... Acredita nisso, leitor? Seres racionais, para mim, são utópicos. Nós não pensamos, obedecemos, criamos valores e a liberdade de expressão é suprimida pelos próprios conceitos da sociedade. Esses seres classificam tudo, seres humanos vivem do fogo macacal.

Egoísmo. Egocentrismo. Ego, ego, ego. Eco. Ecoa o ego, escoa pela latrina. Ego transbordante, ego inflado, ego suplicante para acalentar os nervos, pessoas com complexo de inferioridade querem seus egos inflamados, pois querem sair do próprio pecado de se encontrar defeito... Então extravasam com um elogio ou dois... “Você está lendo isso? Ah, que bom. Jovem promissor”, nem se preocupam com a compreensão, querem reconhecimento. “Queremos elogios, queremos elogios, não importam os sacrifícios”.

Posse. Posse de terra. Posse de sem-terra. Sem teto. Sem banheiro. Sem filtro solar, sofrem os efeitos das mudanças climáticas no ambiente, sem nunca terem jogado gás carbônico na atmosfera. Tuntz tunz, foi o barulho que eu ouvi quando o cara estourou a cabeça do outro dentro do cinema, todo mundo olhou me condenando, achando que eu estava atirando. Splish splash, foi a corrida que eu dei, antes da polícia me segurar, eu sabia que iria apanhar.

Inocentes sofrem. São presos por viverem em um mundo não democrático. Acreditem ou não, não vivemos em um mundo democrático e a democracia ainda é utopia. Sonho... Sonhar é ruim, sonho é privação de sentimentos, você sonha, mas não pode, não deve, são valores impostos.

Jornal velho e pisado. Notícias podres e eu assustado. Calado, pisado, sujo e humilhado. “Temos medo do que foge à nossa compreensão”, nunca optarei por querer compreender esse caos. Engulo agora a lama que se proliferaram tantas gerações nela, o subúrbio dos rios é a lama. Marginal Tietê, marginal Tererê, aquele negro dos cabelos trançados. Ôpa, não se pode falar negro, é dito como preconceito racial, desculpe, mentirei sua cor, porque você mesmo se sente ofendido com ela.

É só rascunho. É só preguiça.

Plug-in.

Plug-on.

Plug-off.

Off.

Off.

Off.

Off.

Morto.

Estrangulado.

Encontrado no rio.

“Suicidado”.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Cegueira

O olho não deveria ser o único órgão do sentido que deveria olhar para as coisas
Olhos, mãos, paladar, ouvidos e olfato deveriam ser sincronizados
Manifestando-se em uníssonos profundos
Cegueiras de neblinas...

Esses versos berram palavras delicadas
Que se misturaram à visão
Igualmente delicada
Constantemente é submetida à distorção

Pessoa zumbi
Frágil. Ela ri
Sonâmbulos na consciência
Livres na ânsia criativa.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Viúva-Negra



Venho andando, intrepidamente andando, docemente andando... Minto. Simplesmente, ando. Faço isso para alimentar tua fome, leitor.
Mergulharei agora nas teias e fios que me tecem e que teço, pare logo aqui então, se o acaso fez você fraco de vísceras.
Essas palavras intraduzíveis do meu pensamento, molham-no e jamais secam, batem, batem, pingam, espalham-se e escurecem, não querem vir para essas linhas negras, talvez cinzas, porque não sei se o que te escrevo são linhas ou tintas.
Sou uma ponte caminhando ao meu redor, pasmo. Sou uma ponte em duas dimensões, sou ponte. Não, não sou, tu és e não sabe. Costumo ficar aflito com o turbilhão que ora me diz ser tu e ora me diz ser eu, somos intrínsecos e nos confundimos. Crê, infantilmente, estar caminhando sobre a ponte. Estrondo contorcido sonoramente. A ponte é quem caminha sobre ti e a poeira que imagina levantar com os pés, são os excrementos não degustados dela jorrando em ti com puro escárnio. “Ex-carne”.
Então fui ao banheiro. Berrei algumas, enxuguei outras. Preferi ficar admirando aquele espelho, que mais me parecia uma janela, sujo. Não estava vendo minha imagem nele. “Ah, claro... Tenho que ficar de frente para ele, pois ele só enxerga o que está à frente”. Meu reflexo refletido nos meus olhos, que são espelhos, espelhos da alma se refletiam no espelho sujo e nos meus olhos... INFINITO. Pavor. Infinito é nada. Vastidão do ser. Vemos um infinito em todos os olhos. Luziu então a idéia de que o vazio que enxergo não está nos olhos dos outros, está no meu por ser espelho e refletir-se infinitamente no olhar dos outros. Arranco.
Agora cego, é tudo escuro. Bom. No escuro ninguém nota minha janela, que mais me parece espelho, mas está morta. Líquido leitoso nos olhos. Meus olhos brancos, ou seria minha janela? Espelho?, continuam vazios.
Ela assovia nos meus ouvidos e tem um dom, ou maldição, de transformar a mais tranqüila das coisas em sons asfixiantes, que tapam os meus ouvidos, como se fecha uma garganta, só respiro pelos ouvidos e assim morro.
Um, dois, três, vai.
Oh, yeah, baby.
Finco uma faca na minha mão, rasgo o véu do paradigma e meus tecidos, agora a sou, sou faca porque ela está em mim, tenho o poder de penetrar e causar sangue, dor, faço sanguedor, enquanto penetro vejo minha imagem refletida na lâmina e não necessito de olhos para isso, então já não são reflexos, sou eu, imagem real, penetro.

sábado, 7 de agosto de 2010

Brasil

A pátria amada do Brasil
Pátria amada vil
Distorce-me a imagem de um grito
Oculto durante um verdadeiro mito.

Brás, as bandeiras!
Brás veja por si mesmo
Essas putas brasileiras
Estampadas em um muro intenso
De pudores, credores e glórias.

Glórias essas tão custosas
Derramadas em leito inócuo
De pacíficas guerreiras mortas
Cadáveres expostos em túmulos no ópio.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Agosto



Agosto é dois. Agosto é cinza, mas também pode ser azul. Agosto é inverno, época de dilacerar as folhas, cair... No inverno as pessoas costumam ficar trancadas dentro de casa, agasalhadas e acompanhadas de ares fúnebres, ficam perguntando onde está aquela agitação molecular... Será que com a baixa energia cinética, tendemos a ficar depressivos...? Irrelevante agora.
Também há o inverno psicológico, as pessoas ficam frias e ensimesmadas, enclausuradas hermeticamente do mundo... Uma claustrofobia na alma seja por medo, neurose ou curiosidade. Não desejo prolongar esse parágrafo, pois começaria uma autobiografia recendente aos meus tempos Byronianos.
Existe o inverno onde as pessoas se vêem obrigadas a estarem fechadas, então aproveitam isso para conhecer-se interiormente, coisa praticamente impossível, mas não é vã.
Pena que por aqui está sempre nevando, com rápidos vislumbres de fogueiras, fogo azul... A minha neve fora lavada, as manchas vermelhas se consumiram e transformaram-se em pássaros brancos.
Agosto não é mal, pois proporciona-nos tempo para que nos preparemos para a sua veemência, é o chamado outono, como folhas, ele nos prepara para cair, deixando-nos secos... Em Agosto caímos e temos duas opções: agonizar e encher a boca de neve ou fazer da queda um passo de dança.
Agosto é fraterno, dá a repreensão, mas com dó, porém sabe da necessidade dela e cuida de seus filhos com amor incompreensível para muitos... É necessário o jorrar de sangue. Aprenda! Aprenda...
Agosto trás espírito vigoroso ou espírito deplorável... Fica a gosto.