sábado, 24 de dezembro de 2011

Um doce quase amargo

   


Quando os teus pés encontram os meus debaixo dos lençóis da minha cama, eles parecem nos guiar pra outro mundo, fugindo de tudo pra vivermos apenas eu e tu, porque o resto, o resto é de brincadeirinha. Quando as tuas mãos tocam as minhas, eu paro de tremer todo o meu corpo, eu paro de temer as dores da existência, eu paro de me assustar com as palavras tão pesadas que existem entre nós e que não precisam ser ditas para que existam e fiquem pairando por nós. Quando os teus lábios tocam os meus o mundo me parece um infinito que se cruza com o outro, tão autossuficientes que só precisam das existências deles mesmos para continuar existindo, não precisam de qualquer coisa além deles. Tu me levas para uma dimensão que eu nunca havia experimentado que é tão minha e tão segura que lá parece ser o lugar que eu escolhi para o meu descanso eterno, eu poderia morrer em você, morar em você, ser a tua respiração, ser o teu sufoco e o teu alívio, porque pra todo pedacinho de amor há, para balancear, um puxão de orelha. Então eu desejo repousar aqui todas as minhas esperanças e sonhos, todos meus tormentos e aflições, todos os meus conflitos e meus empates, porque a partir de quando tu passas a se tornar a única coisa que reside em mim, eu me torno tu, como tu se torna eu, como nos tornamos nós e pra um nós, espaço e tempo são só brincadeirinha, porque é pelo teu afago que eu vivo e é pelo teu cuspe que eu desperto, porque mesmo sendo sonhadores como nós, a gente precisa acordar no outro dia e viver de verdade, mesmo que não seja longe, porque a gente só vive no perto, o sonho é que é um longe que a gente pode alcançar se resolvermos pular até alcançar as estrelas do teto. E é assim que eu tenho medo de me dissolver em ti, porque, se algum dia, teus pés se desencontrarem dos meus, eu perderei o rumo, se tuas mãos deixarem de tocar nas minhas, eu ficarei tremendo durante toda a vida e bem, eu também não quero viver de brincadeirinha, então eu nos viverei, nos respirarei, nos morarei, nos sonharei. Assim, o balanço da rede será nosso, todo movimento da cama domínio do nosso reino, viveremos o império dos sonhos acordados! Seremos todo o sonho daqueles que agora, a esta hora, dormem e, quando estes despertarem, chegará nossa hora de dormir pra passarmos a criar os degraus da nossa realidade, pra podermos nos unir com o tudo e sermos um só, pra sempre nós. Como uma flor eterna, como uma flor que não passa pelas estações do ano, como uma flor que nem é primaveril, nem flor de inverno, como aquelas que eu te dei pra que tu estivesse perto de mim com o cheiro dos meus dedos que estão longe e nenhum mal há de nos despertar enquanto vivermos um dentro do outro, quando estivermos prontos pra nunca tirar a cabeça que a gente insistiu em mergulhar dentro do coração do outro e então brincaremos como peter pan,  mas em uma terra do sempre, e flutuaremos no nosso mundo, um mundo de leveza e doce, um mundo de leveduras e dores, puxão de orelha.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

No Escuro

Nunca dei de negar o mundo
                Que me fez um imundo
                Lazarento atormentado pelas dores do prestígio
                E pelo qual hei de perder o juízo

                Vivo pensando em suicídio
                Mas, antes, terei de cometer um homicídio
de um estranho que vive na escuridão do meu leito
a me olhar, a me repudiar, a me mirar o peito.

                Tem um estranho a me observar,
                a me sussurrar
                no ouvido
                coisas que mastigam o meu corpo doído

                “Doido, louco, demente!”
                Dizem, dizem que perdi a mente!

                Tem sim, tem sim!
                Juro que tem um estranho a me vigiar no sonho
                e quando eu acordo, ele está lá, a me olhar com uns olhos de espanto
                Digo-te, minha santinha, que não é alecrim!

                Ele saliva pela boca com uma espuma de convulsão
                Depois treme a cama com a força de Sansão
                ME DÊEM! ME DÊEM PROTEÇÃO!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A guerra no espelho - O batizo, a fuga e o conflito

  
Mergulhei a cabeça n’aquelas frias águas cantando um mantra “Hare hare...” – e as palavras se tornaram bolhas e subiram pelo meu ouvido para ficar a ecoar na eternidade do meu rebatizo, troquei o nome para absorver a alma alheia, arranquei-a com as minhas mãos, não consegui tirar toda a alma, mas a parte que levo alivia quase todo mundo, eram a minha alma e parte suja da alma do mundo sendo devoradas pelos dentes de um demônio, deixo-me de ser para me batizar, eis meu nome: Dor.

Era eu só, mas me uni à completude de uma parte, fundi-me para ser completude de um todo somando as partes, porém, depois do ritual antropofágico e a da digestão, fiquei só comigo na eternidade do rebatizo, meu limbo...

Depois da eternidade do limbo, há a eternidade da morte, onde se morre todo o tempo e o tempo não há, não se escapa, não se foge, permanece lá, porém existe chance de sair deixando parte do corpo, como se dor fosse a tatuagem  de quem escapou da morte com um membro necrosado...


E nunca desprega totalmente do corpo, a dor, por mais que lave, ensaboe, nada adianta e carrega sempre aquele ar pesado até no sorriso mais bonito... “Há sangue em minhas mãos!” foi aquele miserável que queria pular os campos dos morangos mofados, que é protegido por arame farpado, com duas grandes mochilas nas costas... Era salvar uma e carregar por toda a vida os pensamentos de como poderia salvar as duas, mas havia sangue em suas mãos, sangrava muito... E, deus, como estava cansado, talvez tenham lhe drogado,  soltou as mãos do arame farpado e caiu com as duas, sua ambição e sua necessidade, no chão, em breve, logo alguém apareceria para separá-los e encarcerá-los  naquelas celas imundas, onde até os sentimentos são barrados, mas que ninguém sangrava, só sentiam A-GO-NI-A... Ou pulavam do banquinho com uma corda no pescoço, ou viveriam a eterna agonia até que algum outro ousado fugitivo os libertassem dali... Até a amargura tem lá suas doses de esperança.

No fundo, todos querem fugir de tudo, porque se apavoram com as prisões, então há de vir alguém com algemas fortes o suficiente para não serem quebradas e fracas o suficiente para não lhes ferir os pulsos, ouvir todos os gritos de protesto até que lhes faltem a voz para, enfim, aprender que é melhor se acomodar do que ter a ilusão de que a vida é ser um eterno aventureiro... Temos que parar de ter medo e começar a sentir o cheiro do lar.

AAAAAAAAAAHHHHHHHHH! Rasguei-me e me reparti em dois, um pro inferno com essas acomodações e conformações que nos impõe a “vida adulta”, outro no inferno inventando que está no céu, brincando de fantasiar o mundo, querendo nada, fugindo de tudo, as ilusões de uma eterna criança no berço, achando-se o dono do mundo e se convencendo de que tem um colete à prova de realidade, indo para o tiroteio com a cara pintada dizendo: “EU AGUENTO TUDO SOZINHO!”

Os dois tão miseráveis... Um amargurado e desiludido, outro sonhador e ingênuo... Coloque-os em uma balança com uma corda no pescoço de cada um, hão de despertar e o mais pesado colocará os pezinhos no chão, o outro morrerá sonhando ou amargurando, o sobrevivente estará desperto, vivendo... E, sim, foi isso que tu entendeste, leitor: para um viver, o outro tem de morrer.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Esquerda, direita

 


Há dias venho procurando o meu tempo, onde pertenço, se aqui, ali ou mais adiante, então o tempo me vem à cabeça como vários tropeços, quedas contínuas que você tem que se acostumar sempre de joelhos ralados. Há dias venho procurando meu lugar, onde pertenço, não sei se acolá ou aqui, mas sempre me pego distante demais, nervoso demais... Sem lugar, sem tempo, somente uma casca vazia vagando pelas estações, esperando um trem que nunca. Um empurrão que falta. Duas ou três doses de tequilas e já é o suficiente pra fazer o meu mundo girar, ficar de cabeça-ponta. É estranho ficar perambulando quando você não sabe de onde veio, pra onde irá, todos os lugares que eu parti, todos os lugares que eu ainda vou chegar e ter que fazer uma escolha. No final, as coisas sempre acabam perdendo a graça, por isso resolvi parar de pensar nisso, manter outro pensamento em foco na mente, deixar os dados rolarem sobre a mesa sem precisarem da minha ajuda. Eu sempre dô um jeito de me perder, mas é muito complicado me achar, convencer-me de que eu só faço mal a mim mesmo em qualquer quantidade de fim de semana. Há frutas escorrendo pelos meus olhos. Há árvores desabando em cima de mim. Eu escutei o barulho do vento e ele me pareceu uma moto. E estou sempre aqui, parado, a contemplar tudo passando por mim e eu sem poder agarrar, sendo passivo a qualquer tipo de acontecimento, deixando o vento levar tudo o que eu deixei que levasse por preguiça ou por capricho. Não é que a vida tenha perdido a graça... Pensar demais é que é o verdadeiro problema disso tudo, sabe? Tomar decisões apenas na mente, deixar de fazer o que quer, deixar de viver o que quer por causa dos outros não me parece ser lá muito saudável... Tudo bem, você pode ter entendido errado, não é que estou falando que a felicidade está presente nos inconsequentes... Pra começar, eu nem acredito em felicidade. Mas, sim, os inconsequentes são menos infelizes. Eu só continuo com medo de não me achar, mas arriscando me perder. Sabe como é, cutucar onças com varas curtas... Mas creio que em algum lugar ali fora, ou mesmo aqui dentro, haja um lugar e um tempo onde se possa viver sem pensar em morrer.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O conto sem ponto da corda amiga

Corda minha que enlaça a vida e
      sufoca a alma
Corda minha que enlaça a alma e
      sufoca a vida

Corda, querida corda, venha para me despertar
Acordar de um sonho de morto-vivo
Para encontrar e verdade com suas mãozinhas delicadas em volta do meu pescoço
Visitar a vida para deixar de sonhar

Corda minha,
Querida minha.
Corda querida,
Minha, minha.

Há de me tirar da desilusão da vida
Faze-me repousar a cabeça em teu colo,
Porque me vejo cansado dessa fadiga

Corda próspera
      dos campos de morango
      que os desperta dos lírios do campo
Entoa, corda, entoa tua sublime canção
      para esses soldados cansados de coração

Canta para mim corda, um conto tu tens que me cantar, quero adormecer contigo, então conta para mim: “Era uma vez Mardhem...”

domingo, 29 de maio de 2011

Ir Realmente


R.~ diz (21:55):

*ENFIM
Mr. Nobody diz (21:55):
*não quero mais pensar sobre isso
Mr. Nobody diz (21:56):
*estranho essa coisa em mim que tu provoca
*é incômodo
*e se mexe o tempo todo
R.~ diz (21:57):
*é estranho pra mim também, sério
R.~ diz (21:58):
*coisas que não entendo..
Mr. Nobody diz (21:58):
*não gosto de não saber
*pareço uma criança
Mr. Nobody diz (21:59):
*que, enquanto o pai não explica de onde uma criança vem, fica bolando as teorias maais absurdas na cabeça
*só pra alimentar parcialmente aquela curiosidade sobre o que não sabe só pra ter segurança do que são as coisas
R.~ diz (22:01):
*e aí pode bolar uma teoria certa ou próxima da realidade, ou algo nada a ver
*mas como se parece uma criança, mas não se é
*a teoria não basta pra satisfazer, mesmo que temporariamente tal curiosidade
*porque incertezas hoje parecem perda de tempo, de oportunidade
*e de sanidade
Mr. Nobody diz (22:02):
*talvez se evita para se evitar a angústia que é pensar
R.~ diz (22:05):
*ou se evita por haver uma teoria favorita, e ter medo dela não ser a real
*enfim
Mr. Nobody diz (22:08):
*não entendo isso de ter medo de não ser real...
Mr. Nobody diz (22:09):
*a gente inventa a realidade que quer, com as fantasias que quer, no final... a gente enxerga o que quer enxergar, como se gostar fosse enxergar e desgostar fosse desenxergar
R.~ diz (22:10):
*mas enxergar só o que se quer não é tão simples assim
*eu enxergo minha prof de produção de tecidos toda segunda e, acredite, eu não quero HAHAHHA
Mr. Nobody diz (22:10):
*adfufhbiufbaiufbuf'
*não é enxergar de percepção
*doida véia
R.~ diz (22:11):
*a gente não quer se machucar, então mesmo querendo enxergar algo lindo, se houver algo que possa machucar e não seja lindo, a gente acaba enxergando de qualquer jeito
*esse instinto de sobrevivencia do ser humano faz ele "querer" enxergar o pior também
Mr. Nobody diz (22:12):
*mas quando se força a enxergar o melhor
*até as feridas são bonitas
Mr. Nobody diz (22:16):
*eu não queria usar "amor", mas não achei outra palavra que se encaixasse
R.~ diz (22:17):
*amor é uma palavra metida mesmo hahaha
*mas de fato é a mais pratica de se usar
*a vontade de que tudo seja lindo
*acaba tranformando tudo no universo pessoal de cada um
*mas nunca 100%
R.~ diz (22:18):
*porque a realidade é sempre mais forte (excluindo casos de loucura e dorgas, claro hahaha)
*e uma realidade linda, é dificil! muito.
Mr. Nobody diz (22:19):
*há sempre de se cair na rotina
Mr. Nobody diz (22:20):
*mas todo mundo arrisca de novo
*pensando "dessa vez vai ser diferente" e nunca é
*então a gente corre da realidade o tempo todo
*pra não ser esmagado por ela
R.~ diz (22:27):
*e quando está na realidade, quer fugir pra fantasia
*mas quando estar na fantasia, tem medo da realidade
*e então fica migrando de uma pra outra, direto

terça-feira, 10 de maio de 2011

Nós, caramujos

   





“O homem se vê obrigado a construir seus castelos no ar”.

Fantasias, desejos induzidos? Manifestos distorcidos do inconsciente? Vivemos uma realidade que nem sempre é real, temos aquela que queríamos viver, aquela que os outros querem que nós vivamos e a que, de fato, vivemos, mas nem sempre aceitamos.

Todo mundo acha que se conhece muito bem, mas todos carregamos demônios que fazemos questão de esquecer e mesmo que haja essa necessidade, eles ficam escondidos em algum lugar, lutando para se libertar da repressão que os fazemos, então nunca nos somos por completo, porque achamos errados os nossos próprios desejos, mas errado para quem? Nós? A sociedade? A ética e a moral vigente? Quem disse o que é certo e errado? Existem cidadãos? E, além disso, normais? É certo haver certo e errado? E se for errado? E se for nenhum?

Não sabemos...

O homem constrói sua imagem e, às vezes, crê que ela existe, zela, cuida, reza e mente para si, para os outros, um cidadão-modelo (“Ô, coisinha tão bonitinha do pai”) e quando vê suas ilusões quebrando junto com os pedaços de vidro no espelho ou com as taças que a mulher lhe joga, seu mundinho desmorona...

“Todo esse teatro não impressiona por maior que seja sua recompensa, não se importe tanto assim com sua imagem decadente e, enfim, nada adianta depois se lamentar por maior que seja sua displicência... Sem ameaças ensaiadas na frente do espelho, o caminho mais fácil nem sempre é melhor que o da dor...”

Tira essas costas da lama antes de me dar as botas.

Realmente, todos precisamos de ilusões para viver de desejos pelo quais morrer, porque a realidade é muito dura para enfrentar sozinho, então se pega uma daquelas máscaras de carnaval e sai com um sorriso enorme no rosto... A cara da agonia pintada com um nariz de palhaço.

Talvez se nos víssemos como realmente somos, morreríamos de desgosto.

domingo, 1 de maio de 2011

O Açoito na Mão

                   


Pecadores são os poetas, que de vasto calo, vão escrever sobre as suas dores, os seus amores... Poeta? Poeta finge, denigre, inflige, mente, inventa, hipnotiza, manipula... Poeta? Poeta sobrevive das suas desgraças mascaradas nas desgraças dos personagens...

                Poeta não exprime, imprime, subjetiva e vai falar de sentimento... Sentimento pra que? Pra preencher o verso, montar as estrofes para ganhar os troféus de aplausos e ganhar um romance, romance? Não, sexo... E, sim, os aplausos, porque poeta que é deveras depressivo, só consegue sobreviver da beleza das suas dores expressas nas rimas dos seus poemas... Não sei fazer rima, não sei montar as linhas com os metros, então não sinto dor?

                Poeta versa as suas ideias pra comprar o pão e pagar os impostos... Não escrevo os meus sentimentos, porque eles não cabem no papel e nem o papel cabe neles, não me contento em uma parte pra representar o todo, porque sempre acaba ideal ou miserável demais. Se escrevo sobre ela, tenho que escrever sobre os meus dias risonhos, enfadonhos, moribundos, porque o que sinto é totalmente mutável e, depois do escrito, eterniza-se como um único sentimento e se torna imutável...

                Pecado! Mentira, porque é parte pelo todo, porque há dias que me sinto depressivo, quase morto, aproximando-se do inerte, o zero absoluto, mas há os dias que a vida sorri pra mim e viver é a experiência mais fantástica que existe...  Então varia, dependendo dos dias que eu faço força ou não para me levantar da cama, também varia nos dias que quem faz a força é ela... Então não se pode escrever sobre o amor falando somente de dor ou felicidade, porque há dias...

                Nos dias que tu alimentas os meus vícios de longo fôlego, meu amor vira luxúria... Nos dias que tu me machucas, o amor vira dor... Nos dias que lutamos pelos sorrisos e rolamos na cama como se fôssemos eternos, o amor permanece amor. E, digo-te, quando permanece amor, vale a pena todos os dias de sangue.

                Isso não se pode escrever no papel, porque isto aqui não é diário de bordo, é poesia, um manual de instruções, ensina-te a me montar pelo todo que é parte do meu eu...

Não sou poeta, sou um amador iniciante, e sempre o serei, que usa as mesmas ferramentas para fins diferentes. Eu não produzo, eu fagocito.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sobre uma casa mofada

 


Cantar-te para o meu prazer.
Ferir-me para o meu prazer.
Entregares-me para o meu prazer.
Ferir-te para o meu prazer.
Enganar-me para o meu prazer.
Roubares-me para o meu bel prazer.
Enganar-te para o meu sôfrego prazer.
Ensaiar-me para o meu prazer.
Comprares-me para o prazer das minhas virilhas.
E, enfim, amar-te para só e somente o meu prazer.

“Não podemos confiar nos sentidos, porque esses são os reflexos de nossa ganância, fruto das fantasias que criamos para nos proteger do lado de fora.”

E eu, que tanto pensei que tivesse te amado e que sempre te mostrei meus atestados médicos que alegavam que eu tinha medo de perder-te, agora vejo, sorridente, que amar não é sinônimo de querer e que eu só não queria te perder, pois tinha náuseas só de imaginar o sêmen dos outros a escorrer pelo canto da tua boca, aquela que tanto beijei para te enganar e para me enganar também, enganar-nos de que amor é aquelas cenas de filmes norte-americanos com um sol poente à beira da praia até descobrir que o amor verdadeiro não tem vista para o mar.

Iludi-me com uma realidade paralela na qual o mais profundo dos sentimentos era chegar do trabalhar, ver-te a pôr o meu jantar e logo depois estar sob a escuridão de um quarto a sentir tuas pernas empurrando o meu quadril para penetrar mais fundo e ouvir os teus gemidos, enquanto eu gargalhava por dentro pela obtenção do meu triunfo de macho-alfa e, de fato, saciou-me por muito tempo até que perdi o gosto pelas tuas coxas.

Falo isso, porém não tenho certeza de que isso pode ser uma invenção de uma nova realidade que me impus por não querer aceitar a dor da tua falta e agora me forço a acreditar que não era amor... Ou se a realidade factual é aquela que me salta tão evidente, agora, na frente dos olhos... Ou talvez só queira criar essa dúvida pelo tesão que me dá a curiosidade.

Pelo tesão nasci, pelo tesão vivo.

Se amar for egoísmo, até que amei muito, não é? Até porque me satisfaço pelo teu orgasmo, não pelo meu. Não te preocupa com essas profanações que faço pra ti, deusa, saibas apenas que estou tentando te arrancar de mim e deixar somente as imagens dos urros que soltamos de prazer que foram absorvidos pelas paredes do quarto de que agora durmo, atormentam-me de vez em quando, para me enganar dizendo para todos que foi um desses romances ruins.

Tudo é ilusão e eu que tenho dever de fixar minhas raízes no nada... Minhas fantasias, meus espelhos, conseguir enxergar... E descobrir se, de fato, existo por pensar.

domingo, 3 de abril de 2011

Eyjafjallajökull




Um parafuso que se desprendeu de uma engrenagem que sustentava uma máquina que fornecia eletricidade para a cidade, ia tilintando pelo corredor e trincava o vidro que mantinha aquela sala.

Subitamente, era tudo queda, palavras em gradação, um silêncio ensurdecedor, que precedia uma tragédia cômica. Primeiro a luz, algumas fulguras disformes, algo evaporando, cheiro de enxofre, espere, estou ficando tonto, náusea, vômito, castigo e vírgulas. Armagedon de minhas veias etéreas, transposição metafísica da alma, sorvimento do universo: “Um por todos, todos por um”.

ETÍLICO!

Rouxinóis em lasers verdes, girafas com rinocerontes, planárias! Xiiiiiiiiii. Escuta o som da contemporaneidade? Óh, Clarice, distorceram-te tanto; Óh, Clarisse, você só tinha 14 anos!

Altares de exus, anjos, demônios, divindades, intangíveis no nosso antropomorfismo! Antropomorfos sistemáticos venham cá calcular as minhas sensações lúdicas, satisfaçam-me! Degustem! Devorem-me e absorvam, deem-me tesão, sanguessugas!

Plasmídeos, placentários, zoófilos, enfermos em geral, revolucionem, nós temos uma causa, nosso patrimônio!

Linhas curvas e reconfiguradas que formam o horizonte venham até mim e preencham meu ser, transformem-me em curvas retilíneas paralelas sincronizadas em uníssono pelo meu cardume, escamas, escudos, lanças!

Eu não tenho causas, esse é o problema e não bastam problemas para se obter causas, porque, aliás, estou cheio deles, porém causa nenhuma me convém, impulsa, incendia, o que for, combustão, VULCÃO!

Esparramado no chão com saliva a escorrer misturando-se com secreções nasais e enfim, Escobar, que se junta ao sal marítimo proveniente do mais leitoso cego olhar.

Pele frenética a se comprimir na minha, aperto, belisco, desperto, era um sonho.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Tão piegas quanto amargo





Antes que feche a porta e me deixe a vagar por essas ruas onde nenhuma das pessoas tem o teu sorriso esnobe e teu olhar oblíquo, eu preciso te dizer uma ou umas coisas, dessas que não se pode dizer por não querer ser explícito ou só por imaginar que essas coisas sujas podem manchar tua imagem que com tanto afinco zelei, entende? Por muitas vezes pensei que se eu saísse por essa porta, que você já se decidiu trancá-la, talvez por mim mesmo ou por sua vontade de querer se enterrar com um tão suposto orgulho que criaste para me proteger, desviei e agora volto, pensei que se eu saísse por essa porta sem dizer umas coisas que sempre deixei confidenciadas na minha cabeça, por serem perigosas para nós, porém não existe mais uma realidade fixa de “nós”, quero dizer, mas alguns segundos antes de dormir, tenho que confessar, estou em uma outra das 11 dimensões do universo e talvez seja por isso, sabe? Que nós sempre estávamos em uma só dimensão, apostando e esperando muito de uma só delas, você sabe, aquele papo de pedra, caminho e aquela rima maldita...

Talvez não para você, talvez você também não acredite em mim, mas não é isso que te peço agora, está sendo difícil passar esses dias repetitivos sem àquela expectativa e ansiosidade para que a lua chegasse logo e eu tenha de volta todo aquele tesão existencial, filosófico, psicológico e, as vezes, até egocêntrico, mas sem nenhum físico e, talvez, isso nos matou, compreende? Não que fosse amor de menos, acredito até que fosse amor demais, mas também cultura demais mata a luxúria, porém ainda não é isso, tenho que chegar mais fundo, mais fundo...

Estou vivenciando alguma neurose um tanto perturbadora e outro tanto nostálgica, talvez bem intencionada, mas me aflige por estas dúvidas de que criei em ti uma coisa que era minha, porque eu acreditava que amar era enxergar e desamar era deixar de enxergar, nada de cegueira, daí quando acabava eu me convencia de que não era amor, mas a tua falta, óh, tua ausência... Ficava me perturbando e realçando seja lá o que sinto por você, antes eu pensava que aquela sementinha ali viraria capim, no máximo, samambaia, e não exagero, mas você cresceu de uma forma tão devastadora pela minha sala-de-estar que precisou arrancar meu teto, expandir as paredes e eu necessitava tanto e tanto me embriaguei, que acabei por consentir... Então agora você fechará uma porta e eu ficarei sem semente, capim, samambaia, sala-de-estar, teto, paredes e chaves...

Queria te dizer algumas coisas que me fogem, seja por covardia ou realmente por não conseguir traduzi-las, enquanto eu as digo, ou escrevo ou ambos, sobra-me a apatia, minha vizinha, a solidão, que me deseja boa noite sempre antes de dormir, e a falta dos teus beijos, aqueles que nunca me deste, acho que seria egoísmo demais te pedir para não fechar essa porta, mas também creio que seria falsidade, na mesma proporção, pedir-te para que me deixes ir, sôfrego desejo impróprio ou não. É uma dúvida intrusa que me faz derramar lágrimas secas no silêncio da noite, uma dúvida que é: passado ou presente? Idealização ou realidade? Eu poderia dizer que te amo, escrever alguns versos românticos, o que não seria hipocrisia, mas quero te mostrar interrogações, o reverso da medalha e meu rosto, sim, olhe-me fixamente, pois essa é a primeira vez que vês o meu rosto. Sou belo?

Anda, apresse-se, dê-me essas chaves, sei que irá retirar a maçaneta após minha saída, não, não, entendeste-me errado, não quero dizer que você não tem sentimentos e que não acredita mais em nós, eu só queria deixar isso aqui bem alimentado para que prolongue a chegada da fome...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Punhado de Areia




Se eu pudesse te entregaria tudo da minha rima até o meu amor mais imundo. Desejo-te de alma e já que a alma é psique e dizem que o amor é uma doença, então o que tenho é psicose, uma doença na alma que muda desde a integridade do meu ser à identidade do meu não-ser.

Tudo o que te tenho a falar é desses discursos de novela mexicana e dessas coisas já estamos fatigados de ouvir, então não digo e nem visualizo, pois o que te tenho a falar é de um cenário à beira-mar onde as ondas assolam nossos pés e por mais que puxem e empurrem não nos tiram do lugar e que eu, por estar de noite e não ter iluminação, fico procurando no teu corpo as tuas mãos, estendemos as mãos por não conseguirmos nos ver e só sabemos que estamos lá porque sentimos pelo tato, mas quando não estou, tu não consegues me sentir e até imagina que morri, falta-te a força para crer que estou vivo, então gritas por mim, chora, resmunga e esmurra os ventos, queres meu discurso sobre o quanto te amo para relembrar que sempre estarei ali, porém tem vezes que eu fico em silêncio por cansaço ou até mesmo para ver se tu, de fato, acreditas no que te falo, daí tu enches os punhos de areia da praia e arremessa-a para todos os lados até que pegue nos meus olhos, em outras vezes tu me acertas em cheio com punho e areia, então me cegas e vem o ardor, a dor e a culpa é de quem? Do amor que cresceu tanto dentro de mim que te deixa entrar e me machucar o quanto quiser e que ainda protesta se tu ameaçares partir? Dos meus desejos pelas outras? Por termos nascido? Por nossos pais não terem usado camisinha ao invés de camisas de força? Temos que parar de procurar em quem colocar a culpa e nos responsabilizarmos por toda a dor que causamos, porque tu me machucas para ter feridas para curar e então me iludires com a ideia de que tu és um anjo, quando nunca existirá ação totalmente filantrópica e não importa o tamanho da tampa que achamos, nunca cobriremos por completo o nosso calo por sermos buracos negros, porque cavamo-lo com os próprios pés.

Não é que vivemos de dor, nós apenas sobrevivemos dela.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Um terço de homem




Quem me dera ser homem suficiente para peitar o amor sem medo de cair, abandonar um pouco a razão e usar a vontade, vontade essa que é o intermediário entre razão e desejo, pois é “peitar” e o peito está entre o cérebro e a genitália, uma constante racional e impulsiva simultaneamente.

Arriscar-me a sofrer, mas não me importar, eu tenho o direito de abrir meu peito para vê-lo sangrar, porém faltam-me o peito e o sangue...

Quem me dera ser homem suficiente para parar de bancar o forte, rochedo, geleira; quem me dera ter músculos suficientes, mas só tenho alguns ossos e um resto de tecido adiposo, fico apenas esperando o primeiro verme que me roerá os ossos, daí decidirei se me rendo como ser pensante ou o devoro mantendo a minha manutenção de sanidade, pago o aluguel do mês de barriga cheia...

Quero ser homem suficiente para poder chorar e não sentir vergonha. Sou 1/3 de homem em uma embarcação e para isso são necessários tripulantes, por enquanto só posso sonhar e cá estou reclamando de que sonhar não é viver.

Tem vezes que os impulsos são necessários, porque o tempo para pensar nos torna, às vezes, um tanto covardes, enchendo-nos de incertezas e inseguranças... O impulso não tem falta de pensamento, pois pela rapidez, os pensamentos ficam no subconsciente.

Quero eu contar as histórias à Homero e ser o herói, estou cansado de ser leitor, Heitor... Relatar a minha Odisséia e retornar ao lar com as menções honrosas, queria eu poder dizer isso, sei que é ousadia, para um personagem secundário, porém não deixam de ser vontades que gritam dentro de mim e todas as vozes que ouvires serei eu.

Lapidando as pedras brutas do meu rim e as transformando em arte, arte essa que desce pela minha uretra e se perde na descarga do meu vaso sanitário, junto com o meu sangue e a uréia, pronto, agora tenho a atmosfera primitiva e estou à espera do primeiro ser vivo no meu vaso sanitário, sanatório...

Vivendo morto com os braços cruzados assistindo ao espetáculo das gotas de chuva que insistem em grudar no vidro da janela, mas acabam escorregando e se acumulando, virando poça e, à terra, lama... E acabo de concluir que a cidade é responsável pelos covardes e o campo pelos heróis.

E eu querendo ser homem, desculpe comandante, sou rato e aproveito os restos de fim de feira.

terça-feira, 1 de março de 2011

Nenhuma, nenhoutra

A ti entreguei o melhor de mim, o meu amor imortal, a própria alma, como ato de pacto eterno, tu eras minhas, minha alma era tua e o meu corpo de outra pessoa, um de orgias dionisíacas e outro celeste, um amor mortal, o outro imortal...

Na Terra, luxúria. No céu, pureza. Enganas-te se pensas que era encenação, pois era tão real que eu podia enxergar de olhos abertos, entendeste? ENXERGAR DE OLHOS ABERTOS! Chega a ser fantasia de tanto que é real.

Amor imortal, venha aqui cair por terra e se entregar ao vinho. Amor mortal, toma aqui tuas asas, mas não se confundam, por mais ébrio e por mais sóbrio que, respectivamente, amor imortal e amor mortal estiverem, imortal continuará sendo imortal e nunca se misturam.

E quando amor imortal cansar dos meus sentimentos e começar a retalhá-los, aconchegar-me-ei entre as pernas arreganhadas de amor mortal e quando seus lábios entediados começarem a protestar, cantarei meus amores e dores para amor imortal, um ciclo vicioso.

Porque para ter amor é preciso de sexo e dessa vez não estou a falar de duas... Enganas-te profundamente se pensas assim, porque não estou falando do coração dos outros e nem da inclinação que o meu tem para a esquerda, estou a falar da alma em seu estado puro, caótico e primitivo, como nobre e plebeu, como vestir as roupas de um padre e depois abandonar as roupas, seguir o instinto e fungar como um animal silvestre indomado nos meios teus.

Divino e mortal, como Hércules, mas sem as glórias, só com as misérias, um semi-deus desprovido de poder e força, agora é sentimento e razão, não é de natureza, mas minha alma tem parte racional, daí a covardia, onde eu nunca poderei sair a entoar os cânticos de Camões, porque é de alma e o que é de alma não se arranca, mas se pode corromper como mancha de petróleo no oceano, como pastor na câmara dos deputados em Brasília.

Decidir entre amor mortal ou imortal não cabe a mim, cabe à natureza e a sua seleção natural, a lei do mais forte, porém é bem mais doloroso perder algo que nunca teria um fim do que algo que já tem um fim programado. Prova de resistência, ganhará o coração que tem mais sangue para perder.

Cáustico, engrenagens polialélicas, patologias, saprófagos, antropófagos, vodka barata e Chico Buarque dizendo para Jesus Cristo que lhe afaste esse cálice.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Um Humano Assumido - O Cheiro do Ralo (Filme)




Descobri a gota que sou, luto pela vaidade e reconhecimento alheio, logo eu, um defensor do meio-ambiente e anti-capitalista que entra em sala de aula com um sorriso fazendo pré-julgamentos, comparando os outros a pedaços de merda e me enaltecendo perante a eles, pobre de mim que sou frustrado com a minha incapacidade de me aproximar deles, prefiro dizer que os problemas são os outros quando esse pedaço de bosta que exala um cheiro ruim sou eu, mas eu não quero que descubram que o odor é meu, então ponho toda a culpa no ralo, que está entupido, porém somente eu uso aquele banheiro e toda a merda é minha - “A vida é dura”.

                Acabo pensando que nunca gostei de alguém de verdade, vivo em relações de merda, nunca amei os defeitos de ninguém e, quando os percebo, saltam-me à face como em alto-relevo e começa tudo de novo, o desgaste, o enjoo, o empate, o sufoco... No fim, todos temos feridas incuráveis e que têm cheiro de decomposição, mas as escondemos e colocamos perfume – “O homem é o deus do conforto”.

                Sou o estranho e imbecil do capitão do time de futebol americano, mas sem a popularidade do mesmo... E todo o meu amor vira bunda e faço qualquer coisa por ela, as mesmas bundas que vão entupir de merda os ralos de outras casas, talvez até piorem o estado da minha...  “O ralo me trouxe a bunda, um presente do inferno”.

                Já nem sei por que luto para a minha vaidade e o reconhecimento alheio, não sei o que eu vou ganhar, nem mesmo sei se quero ganhar, sei que eu luto porque não tenho mais porque lutar, minha vida me satisfaz e todos nós temos a podridão de querer aumentar o ego brincando de admiração com aqueles que habitam o nosso ralo... – “Eu não me importo com ninguém, só não quero que eles pensem que o cheiro do ralo é meu”.

                O encanador cobra caro para o concerto e preferimos guardar o dinheiro e só tampar aquilo com cimento, pondo várias camadas pra acabar com aquele cheiro horrível, mas um dia o cimento cede e o ralo volta a respirar, acabamos sendo tragados pela própria bunda que fez a merda...  “A culpa toda é do cheiro do ralo”.

                Tudo para recolocar a culpa da nossa frustração nos outros, fumando um cigarro e rindo... – “Os convites já estavam na gráfica! O que os outros vão pensar?”

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Filha da puta



Em todos os portos que desceste.
Em todos os cais que repousaste.
Por onde tu andaste, querida...
Deixou três pontos em testas e dor... E dor...
E foi em um forte, que desmoronaste o mais duro dos corações.
Quebrara barreiras, rompeste fronteiras, sem nenhuma permissão.
Foi um vento, atordoante, dolente e covarde.
Escondeste seus túmulos do passado morto em bocas podres que almejavam a pureza...
Eram nomes e números, nomes e números, e cidades... Sim, cidades, portos e cais.
Dos solavancos, de banco-em-banco, sorrateira ladra de um futuro ventre de amor e dor...
Passara a cuidar dos enfermos extasiados no teu colo realengo, em teus pés demasiados peitos diferentes e variados, muitos, muitos e um só sentimento, guardava-o pelo passado e tentava o encontrar no presente de bocas-em-bocas, de bancos-em-bancos, cais, portos e cidades... E um só, um só túmulo...
Óh, majestade... Guarda em ti meus plebeus sentimentos, guarda em ti minha mais nobre perversão, mas por favor... Não esqueça que não sou o teu pão que te alimenta todos os dias e meu nome, sim... Meu nome não é o dele, não é Johnny... Talvez você nem queira sabê-lo, basta substituí-lo com alguns incensos...
Mas para de cuidar de mim.
Para de ir e vir.
Você não tem esse direito aqui...
Sou o rei de mim e não venha me impedir
De não querer ter os meus dias ruins...


Cais, portos, músicas da Cássia Eller, fora assim em todos os portos? Fora assim em todas as pousadas? Roubara-me e preenchera com ilusões de volta, de canto. Enchera-me, enchera-me de beijos e apertos, mas acabara assim, eu sem um fim... Você a rir.
Peço apenas que se lembre de mim quando provar o vinho da luxúria e tudo o que poderíamos ser e não fomos...
Mas, por favor, por favor... Vá ou fique de uma vez.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Para ler sem pausas

Não me contento mais com minhas veias, quero e desejo ser mais, eu tenho que fazer mais. O caos dominando e a desordem na minha mão, eu quero ser mais, tenho que fazer mais. Um véu que me encobre do mundo e eu querendo rasgá-lo com garras, unha e dentes, quero deixá-lo ferido tanto quanto eu, suas feridas curarão as minhas, um véu que me separa da alma, quero união, quero ir mais fundo.

Esses pensamentos que me percorrem desvairadamente e a dor na minha mão que já não acompanha meu peito, eu quero rasgá-lo e na minha miserabilidade rotineira darei um brado que revigorará um exército, um urro de peito, a primitividade bruta e instintiva que me falta, sairei do controle de mim e de minhas pálpebras tão fatigadas, sou a soma do mundo e não terminarei apenas como um adubo de plantas.

E esse caos que não deseja ordem gritando e sonhando, não pense, só acompanhe a minha mão, tenho que ser mais que linhas, tenho que ser 3D e a entrada terá o seu preço aumentado. Não almejo ordem, almejo ritmo. Mais, MAIS.

Já não quero mais somar, quero multiplicar, daqui a algum tempo será uma progressão em exponencial e a porra do tempo biológico me limita. Tudo que é limítrofe é orgânico, tudo que é orgânico, decompõe-se; abrirei os horizontes, rasgá-lo-ei, como os lusíadas, seguirei velejando em tempestades...

Se for inevitável ser nutriente para verme, farei o possível para que eu seja o mais suculento dos vinhos e ele se embriagará por noites devorando minha carne fumegante, pois mesmo depois da morte, estarei eu irradiando vidas.

Volto no tempo e percorro o espaço, sou a gravidade de tudo que já fui e sou, agora posso distorcer o espaço-tempo e optar por ser buraco negro, apesar de desconfiar de já o ser, é absorver, sugar vida, um poeta morto, que mesmo preferindo a morte, devora a vida...

Então pulsa por ser involuntário, mas, de qualquer jeito, involuntário seria, porque até mesmo os suicidas se matam por querer a vida.

Tudo que escrevo são rascunhos inacabados de algo, porque sou um rascunho, porque tu és rascunho e a vida o longo ensaio de uma peça que nunca se realizará e os fortes sobrevivem, mas o sobreviver é um adiantamento, não evita...

O que não me poupa é o antagonismo, que por ser agonia ou anta, vem me visitar com uma sabedoria inculta, não oculta, exposta e a jorrar pus, sabe como é, aquela história toda de sistema imunológico e corpos estranhos.

Rasgaremos o véu, veremos a destruição do sistema solar, as promessas cumpridas e o apocalipse, culminado com o aniquilamento do nosso planeta, tal qual como o conhecemos, porque, como vulcão, toda destruição tem alguma dose de criação.

E a lua sempre estará a salvo.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

She & Her - Me

Uma é cadáver e repousa sobre o meu peito, só mostra alguns sinais vitais quando o meu coração, em vão, tenta bombear sangue para os nossos dois corpos, porém desprovido de razão ignora o fato de que um coração não pode sustentar dois corpos.

A outra é abelha e me pica enquanto durmo, vem ainda com a boca lambuzada de mel me beijar, finge receber ordens e escorrega dos meus dedos com a umidez do seu corpo, vive de arrotos.

Mas, veja bem, meu bem, ela está quando você sai e o nome dela não é Saudade.

Uma tem meu sentimento, a outra acha que o tem, mas quando abrir os olhos notará que é a reação do meu corpo ao passeio das suas mãos e não é enganar, porque é recíproco demais para ter agente causador e hospedeiro.

Uma é serena e é responsável pelos acalentos, a outra me causa agonia e é responsável pelos meus gemidos à meia-noite, elas são o equilíbrio, caso desequilibre ocorrerá dilaceração dos tecidos, porque uma não é “uma” sem a outra e vice-versa.

Uma tem lençóis manchados de outras paixões, a outra já tem todos os meus lençóis e são intrínsecas e se misturam a ponto de uma ser outra e outra ser uma.

A ti entrego a boca e a ela a alma, meus lábios com dentes, meus dentes com alma, minhas vestes ardentes, meus pedidos de calma. Enquanto tu não seres de corpo e ela não ser de alma, irão se completar para sempre sobre meu colo repudiante.

Elas as rainhas, eu um condenado a amar duas feito um escravo que por nunca ter nada se esbanja com o tudo e acaba tendo nada, sou prisioneiro da paixão, imigrante do amor, servo da razão, mas um amaldiçoado incapaz de escolher.

Peço, desde já, perdão por carregar três corações sangrentos e ter que atirá-los no rio, tudo que eu sempre quis, maldito seja este ditado, por água abaixo.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A quimera

Traga o dinossauro Barney de volta, quero sacolejar os meus braços de novo e não achar isso bobo, desentender porque os adultos estão rindo de mim se eu estou sendo o mais legal da minha velha infância.

Eu soltava pipa e tinha medo do confronto com as demais, demoravam séculos para construí-la e porque arriscar perdê-la se ela era o único motivo que me fazia gostar de acordar cedo? Quero o pé de jambo de volta, correr com medo das ameaças da Dona Íris de jogar água quente.

E eu que me achava tão fraco por chorar depois de ralar o joelho... Tira essa conta de aluguel, porque cá estou eu a pintar o meu nariz. Correr sem medo de tropeçar, dançar como for sem medo do vexame, querer crescer, porque hoje eu só quero diminuir e a única vontade de pular é daquela ponte para o mar...

Cá estou eu a mendigar a minha infância, enquanto eu tomava leite para crescer forte e sadio... Queria eu saber os segredos da puberdade junto com os meus amigos, agora que crescem as barbas queremos os segredos da infância, mas dessa vez estamos separados.

Reconhecer-me-ia a se esconder nas ruas quando hoje eu flerto nelas? Dar-me-ia um doce ao invés do cigarro. Era um pássaro livro, contrastando que agora vivo a pedir as pessoas as penas para conseguir voar novamente. Eu ainda sou uma criança que anseia a história e o beijo de boa noite, mas hoje as histórias terminam em tragédias e os beijos de boa noite dizem silenciosamente: “talvez eu não o veja amanhã”.

Quero minha colher com danone e poder lambê-la embaixo, quero dizer adeus aos assaltos. O meu amor era só de pai e mãe, agora tenho que lidar com a dor. Peço perdão pelas campainhas apertadas, Deus, mas agora já podes me devolver a vida.

Quero pintar o sol com um pincel azul, roubar a cor da estrela para mim e perguntar como ela consegue ser só e brilhar tanto, então talvez eu cale a solidão, parar de mostrar os músculos quando só tenho os ossos e deixar guiarem a minha mão.

Quero parar de ser testemunha dos suicídios dos meus amigos. Quero parar de ser testemunha de suas partidas.

Quero poder dançar e não ter os pés esmagados, mas esmagar os de outra pessoa, porque eu não sei guiar nessa dança e não sei pra onde ir. Quero ver as luzes de natal e ficar boquiaberto, esperar o Noel entrar pelo teto. Largar esse vinho e ter de volta ao mingau, ajudar a pintar a casa e me sujar de tinta, não de monóxido de cálcio, quero desaprender para reaprender a vida, segurar na mão, não bancar o corajoso e percorrer a trilha.

Eu cresci duzentos anos, mas dá saudade de ter onze...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Poema Urbano

Repouso debaixo do teu cobertor
Tremendo de dor
Suspirando a carícia da noite seguinte
Sentindo o quinhão cruel do dia
Mergulhando no pote da pia
Ignorando as investidas
Anda, tira a roupa que já eu quero dormir
Anda, fala-me boa noite que eu já quero sonhar
Enquanto estiver só me olhando, eu direi tudo bem
Até gosto um pouco de masoquismo, mas nada lá muito exagerado
Agora me deixa ir
Quero deitar
Vou ali me ajoelhar e falar amém
Sentir o estrago, dar um trago, puxar um baseado, delírio da matina, estupro da rotina
Agora cala a boca que os meus pensamentos estão sendo interrompidos pela tua saliva
Desce um pouco e me deixa provar dessa boquinha
Perfídia, lascívia, luxúria, palavra rimada, letra soletrada, Hiroshima.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Os rancores do meu bem-querer



Escrevo-te uma rima sem verso, um refrão sem melodia, porque aprendi a te amar em silêncio, um amor de calmaria e temporal, porque se for apenas calmaria, tu abandonas-me pela rotina e falta de expressão, se o for somente temporal, tu abandonas-me pela intensidade e ferocidade que fazem a insanidade crescer e tu ficas com medo de perder o controle.

Tudo é medo, medo é a razão emocional da inconstância do nosso relacionamento, é a razão pela qual não fujo e a emoção pela qual não fico, ambos são medo de te perder e acabar com uma xícara despedaçada no chão, porcelana espatifada.

Enquanto catamos os vidros, um ou outro corte vai surgindo, porque para a ressurreição acontecer a dor é pré-requisito e por mais resistente que o meu navio seja e que o mapa esteja em minhas mãos, os icebergs sempre mudam de lugar e aqui já não está mais presente o bom navegador de outrora.

Tanto quis te ter que forjei asas nos teus pés, limito-me para que não repouses e nem voe além do céu, você acabará nos queimando, minha Santa Inquisição, viemos do pó e para o pó retornaremos.

Para toda ação há um braço que pende, e a morte não é a dor da vítima, mas dos impactos de estar sem ela, ela... A dor ou a vítima? Romanescas e pitorescas, meus privilégios de alma baronesa.

Quero ser Arlequim, tu me pedes pra ser Pierrot, mas acabo tendo que assumir o papel de Colombina para te dar sentimentos e em troca me dar teus quilos de carne e ossos.

Pede-me para que partas e fique, vivo em uma eterna febre, dividido entre o quente e o frio, uma armadura de gelo que se desmorona em flocos de neve que caem e o meu coração que repousa no meio dos teus dentes parece gostar do estrago.