sexta-feira, 18 de março de 2011

Punhado de Areia




Se eu pudesse te entregaria tudo da minha rima até o meu amor mais imundo. Desejo-te de alma e já que a alma é psique e dizem que o amor é uma doença, então o que tenho é psicose, uma doença na alma que muda desde a integridade do meu ser à identidade do meu não-ser.

Tudo o que te tenho a falar é desses discursos de novela mexicana e dessas coisas já estamos fatigados de ouvir, então não digo e nem visualizo, pois o que te tenho a falar é de um cenário à beira-mar onde as ondas assolam nossos pés e por mais que puxem e empurrem não nos tiram do lugar e que eu, por estar de noite e não ter iluminação, fico procurando no teu corpo as tuas mãos, estendemos as mãos por não conseguirmos nos ver e só sabemos que estamos lá porque sentimos pelo tato, mas quando não estou, tu não consegues me sentir e até imagina que morri, falta-te a força para crer que estou vivo, então gritas por mim, chora, resmunga e esmurra os ventos, queres meu discurso sobre o quanto te amo para relembrar que sempre estarei ali, porém tem vezes que eu fico em silêncio por cansaço ou até mesmo para ver se tu, de fato, acreditas no que te falo, daí tu enches os punhos de areia da praia e arremessa-a para todos os lados até que pegue nos meus olhos, em outras vezes tu me acertas em cheio com punho e areia, então me cegas e vem o ardor, a dor e a culpa é de quem? Do amor que cresceu tanto dentro de mim que te deixa entrar e me machucar o quanto quiser e que ainda protesta se tu ameaçares partir? Dos meus desejos pelas outras? Por termos nascido? Por nossos pais não terem usado camisinha ao invés de camisas de força? Temos que parar de procurar em quem colocar a culpa e nos responsabilizarmos por toda a dor que causamos, porque tu me machucas para ter feridas para curar e então me iludires com a ideia de que tu és um anjo, quando nunca existirá ação totalmente filantrópica e não importa o tamanho da tampa que achamos, nunca cobriremos por completo o nosso calo por sermos buracos negros, porque cavamo-lo com os próprios pés.

Não é que vivemos de dor, nós apenas sobrevivemos dela.

3 comentários:

  1. perfeito ' isso tdo me fez refletir
    mto mto mto perfeito Mardhem Maciel ele é demais '

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  2. Um pedacinho da grande verdade no seu texto.
    p.s.: amei a foto '-'

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