quarta-feira, 9 de março de 2011

Um terço de homem




Quem me dera ser homem suficiente para peitar o amor sem medo de cair, abandonar um pouco a razão e usar a vontade, vontade essa que é o intermediário entre razão e desejo, pois é “peitar” e o peito está entre o cérebro e a genitália, uma constante racional e impulsiva simultaneamente.

Arriscar-me a sofrer, mas não me importar, eu tenho o direito de abrir meu peito para vê-lo sangrar, porém faltam-me o peito e o sangue...

Quem me dera ser homem suficiente para parar de bancar o forte, rochedo, geleira; quem me dera ter músculos suficientes, mas só tenho alguns ossos e um resto de tecido adiposo, fico apenas esperando o primeiro verme que me roerá os ossos, daí decidirei se me rendo como ser pensante ou o devoro mantendo a minha manutenção de sanidade, pago o aluguel do mês de barriga cheia...

Quero ser homem suficiente para poder chorar e não sentir vergonha. Sou 1/3 de homem em uma embarcação e para isso são necessários tripulantes, por enquanto só posso sonhar e cá estou reclamando de que sonhar não é viver.

Tem vezes que os impulsos são necessários, porque o tempo para pensar nos torna, às vezes, um tanto covardes, enchendo-nos de incertezas e inseguranças... O impulso não tem falta de pensamento, pois pela rapidez, os pensamentos ficam no subconsciente.

Quero eu contar as histórias à Homero e ser o herói, estou cansado de ser leitor, Heitor... Relatar a minha Odisséia e retornar ao lar com as menções honrosas, queria eu poder dizer isso, sei que é ousadia, para um personagem secundário, porém não deixam de ser vontades que gritam dentro de mim e todas as vozes que ouvires serei eu.

Lapidando as pedras brutas do meu rim e as transformando em arte, arte essa que desce pela minha uretra e se perde na descarga do meu vaso sanitário, junto com o meu sangue e a uréia, pronto, agora tenho a atmosfera primitiva e estou à espera do primeiro ser vivo no meu vaso sanitário, sanatório...

Vivendo morto com os braços cruzados assistindo ao espetáculo das gotas de chuva que insistem em grudar no vidro da janela, mas acabam escorregando e se acumulando, virando poça e, à terra, lama... E acabo de concluir que a cidade é responsável pelos covardes e o campo pelos heróis.

E eu querendo ser homem, desculpe comandante, sou rato e aproveito os restos de fim de feira.

2 comentários:

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  2. Homem, contra-dicção.

    Quem te dera ser suficiente para ter medo, abandonar, e cair. Quem te dera não pigarrear os olhos de medo quando o amor fecundar-te.
    Quem te dera masturbar à alma sem saber que é misantropia, androfobia ou só falta de uma mão feminina.
    Pareces que tu, homem, só peitas de lados, escondido, porque de afronte, de afronte é só um garoto segurando o guidão de uma bicicleta que ainda sonha em ganhar, desde... Desde o último aniversário que existiam pessoas de verdade... Parabéns, homem, parabéns.
    Quero ver o homem suficiente para admitir que tenha peito e sangra que sangra porque tem peito, não, não é peito, é coração, sabe?
    Mas sei, que tu, ó foste castigado de ter nascido assim, saindo para pegar a caça, sabendo que a caça é tu. Chegas com as mãos em calos, quando chegas...
    Quem te dera ser homem suficiente para bancar, abarcar, porque até quando fingis denuncia tua misericórdia de carregar a cruz. Porque és tu, homem, que têm os ombros sangrando, e tua mãe, só em prantos.
    Quem te dera ser tão homem e não duvidar de tal fantasia.
    Pois é um terço DO homem, sem rosário, sem credo ou hóstia. Sem o pai do nosso, ou a “Ave” de Maria. É um terço, só, de madeira, de plástico ou ouro. É um terço, que precisa existir para existir fé. Pois até os mais duvidosos, um dia, quem sabe, usaram o terço para salvar-se da penúria dessa sanidade.
    Quem te dera ser homem suficiente para construir uma nova arca dentro de si, assim conseguir levar todos, e não deixar ninguém nos cais dos mortos.
    Quem te dera ser homem e ter tripulantes. Que desejem “NÃO ABANDONAR O NÁVIO”.
    E quem sabe, assim, tenha histórias e possas compartilhar com os teus discípulos, mas não os deixando de ouvir. Pois nunca será soberano, isso é Homeopatia.
    E quem sabe seja tão homem e suficiente para puxar a descarga sabendo que lá quem desce és tu.


    AINDA ACHO QUE TEU TEXTO É VANGUARDA... FICO ESPERANDO O FUTURO CHEGAR... COM O TERÇO DE HOMEM.

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