terça-feira, 1 de março de 2011

Nenhuma, nenhoutra

A ti entreguei o melhor de mim, o meu amor imortal, a própria alma, como ato de pacto eterno, tu eras minhas, minha alma era tua e o meu corpo de outra pessoa, um de orgias dionisíacas e outro celeste, um amor mortal, o outro imortal...

Na Terra, luxúria. No céu, pureza. Enganas-te se pensas que era encenação, pois era tão real que eu podia enxergar de olhos abertos, entendeste? ENXERGAR DE OLHOS ABERTOS! Chega a ser fantasia de tanto que é real.

Amor imortal, venha aqui cair por terra e se entregar ao vinho. Amor mortal, toma aqui tuas asas, mas não se confundam, por mais ébrio e por mais sóbrio que, respectivamente, amor imortal e amor mortal estiverem, imortal continuará sendo imortal e nunca se misturam.

E quando amor imortal cansar dos meus sentimentos e começar a retalhá-los, aconchegar-me-ei entre as pernas arreganhadas de amor mortal e quando seus lábios entediados começarem a protestar, cantarei meus amores e dores para amor imortal, um ciclo vicioso.

Porque para ter amor é preciso de sexo e dessa vez não estou a falar de duas... Enganas-te profundamente se pensas assim, porque não estou falando do coração dos outros e nem da inclinação que o meu tem para a esquerda, estou a falar da alma em seu estado puro, caótico e primitivo, como nobre e plebeu, como vestir as roupas de um padre e depois abandonar as roupas, seguir o instinto e fungar como um animal silvestre indomado nos meios teus.

Divino e mortal, como Hércules, mas sem as glórias, só com as misérias, um semi-deus desprovido de poder e força, agora é sentimento e razão, não é de natureza, mas minha alma tem parte racional, daí a covardia, onde eu nunca poderei sair a entoar os cânticos de Camões, porque é de alma e o que é de alma não se arranca, mas se pode corromper como mancha de petróleo no oceano, como pastor na câmara dos deputados em Brasília.

Decidir entre amor mortal ou imortal não cabe a mim, cabe à natureza e a sua seleção natural, a lei do mais forte, porém é bem mais doloroso perder algo que nunca teria um fim do que algo que já tem um fim programado. Prova de resistência, ganhará o coração que tem mais sangue para perder.

Cáustico, engrenagens polialélicas, patologias, saprófagos, antropófagos, vodka barata e Chico Buarque dizendo para Jesus Cristo que lhe afaste esse cálice.

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