segunda-feira, 23 de julho de 2012

o garoto espacial





Estou a tatear essa densas paredes do meu quarto fúnebre, vendo uma densa cadeira amórfica pregado no teto a desdenhar da minha agonia espalhafatosa, respirando a porra de um ar venenoso que entope meus pulmões do movimento espiralar da queda da merda e de um chorume, como se tivesse afundado nos lençóis ilusórios da minha cama para ser afogado em um mictório de estrelas do rock, tudo morto, e as tumbas dos meus ancestrais cadavéricos ficam a zombizar na minha cabeça, os fantasmas surgem e eu não fujo, eles me chamaram para brincar de escravos de loló.

Seringas no chão, alegrias injetadas na veia e passando por todo o meu corpo lentamente. Anoiteci-me, mas tenho medo de não mais acordar. O meu correr é insuficiente. Minhas pernas estão lá, mas não. Os meus olhos enxergam, mas não. Eu vivo, mas a minha existência não me alcança. Eu corro, eu fujo, eu acho que estou voando, mas provavelmente eu esteja só caindo. A primeira e última vez sem chão. O final. Eu quero partir, mas. E se... Não! Eu estou indo para um lugar onde eu nunca. Talvez volte, talvez não. Talvez eu ganhe asas, talvez não, mas estou indo.

Rouxinóis verdes claros estão a contaminar a minha vista, o mundo parece ser tão longe dos meus pés agora... O cheiro de queimado sobe, minha vida se esgotando junto com as cinzas, estou envelhecendo na mesma merda de cidade fadado a morrer essas minhas últimas mortes, morrendo pra nascer igual com o som do mesmo estúpido sino badalando no meio-dia, com o mesmo cheiro de queimado e eu só precisava de um chá de cogumelos...

E no fim da tarde, essas pequenas criaturas ficam me atormentando, perfurando meu estômago, defecando na minha corrente sanguínea, uma tortura de nunca mais. Eu me perco sempre, mas eu consigo. Não tenho sempre, mas ainda. Respiro, mas escapa. Escapa e não mais me pertence, foge de mim, o queimado, a queda, os sinos, pequenas criaturas, eu e nenhuma mais outra poesia.

Eu tenho medo de partir, mas ficar já me é agonizante...

sábado, 7 de julho de 2012

If


andar todos os dias nas mesmas ruas

olhar todos os dias as mesmas caras

sentir sono no ônibus, na ida e na volta pra casa

sorrir com as mesmas piadas

trilhar as mesmas estradas

correr da própria sombra

às vezes, de medo

às vezes, pra rir

esquecer as velhas músicas

sonhar acordado

sentar a mesma bunda

rir com a mesma cara

cavalgar o que não tem

atropelar as pessoas erradas

ser gentil

fingir

escutar o latido dos cachorros em frenesi

calhar o que calha

sorrir para o que basta

enganar-se do necessário

fantasticar o trivial

magiquices do resto

cansaço para a hora de dormir

chorar para a hora de se esconder

amar todo tempo

criar

criar

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Circo dos Horrores


Eram alguns diabos miseráveis ao redor de uma mesinha, todos ali unidos pela bebida, a bebida era a mesma, as traqueias que eram diferentes, todos em silêncio, mal escutando aquela música baixinha, esperavam o primeiro botar a máscara no bolso.

Enquanto a garrafa secava, eles iam se enchendo daquela embriaguez que ora parecia fuga, ora expansão da realidade. Então começaram as gargalhadas, as mãos batendo na mesinha, diálogos sobre nada e tudo, o álcool diluindo toda a hesitação, os pensamentos vagueando ali e acolá, então, repentinamente, todas as máscaras estavam guardadas, as chagas expostas, as carcaças abertas, a podridão emanando das palavras e o vazio ressoando em sincronia daquelas almas imundas, porém, notavam, com ternura, que eram belas as suas feiuras.

Hipóteses, hipóteses, hipóteses, bebida e filosofia, o circo dos horrores estava aberto e para um humano entrar, ele tinha de assumir sua natureza vil, enfiando a cabeça na própria bunda. No palco, os diabos expondo e destruindo todas as ilusões, começou o show de aberrações: “Olhemo-nos nos olhos, nós, seres hiperbóreos”.

Cada um carregando seu pesar, sua fantasia, um traje de humano que não lhes cabiam no corpo todo... Eram caramujos fora das cascas e não mais se encolhiam perante o mundo, desafiavam-no com suas palavras afiadas e, caso algum cristão lhes aparecesse dizendo que a porta do inferno estava aberta, eles eram capazes de dizer que eram augustos-anjos entediados do paraíso ou até mesmo o convidasse para tomar umas doses com o capeta e ririam da própria amargura.

Agora, saindo do barzinho já com a metade do rosto coberto pelas máscaras que insistiam em voltar, iam caminhando tortos e tropeçando nas próprias ideias, cabeças tontas, bêbados cambaleantes na Avenida 13 de maio, falando a primeira coisa que lhes perturbasse a mente, cada um para seu destino até que esse lhes oferecesse bebida e os unisse novamente. Iam para casa agora, voltar às suas vidinhas de merda, como diabos domesticados.

Enfim, unidos intimamente, seres inacabados em progresso, a bebida que antes diluíra, agora fazem de suas entranhas um lugar em comum onde partilham suas inebriedades, filhos paridos da mesma puta.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Anônimo







           Eu acordo e me olho no espelho... Tô com a aparência horrível. É, a barba mal feita, o rosto vermelho, com marcas nos olhos, pareço triste... Com essa aparência de sempre cansado, dá pra ver no meu rosto a exaustão desses dias...

É, as coisas não andam fáceis, o tempo parece rastejar... Estou sentindo falta de tempo e isso me deixa irritado, sinto falta de viver lá fora... Sinto falta de respirar um pouco, encostar minhas costas numa poltrona e só descansar, os dias tão muito pesados... E por mais que essa exaustão toda tome conta do meu corpo, eu tenho essa ânsia, essa pressa, essa vontade de tão grande é que chega a tomar o espaço de toda a exaustão, só por chegar em casa e ter um pingo de conforto, um pingo de mim durante o dia... E poder me concentrar naquilo que me faz tão bem, que é sentar na frente do computador e ter o contato com o mundo lá fora, falando de mundo, eu quero dizer: ela.