quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Para ler sem pausas

Não me contento mais com minhas veias, quero e desejo ser mais, eu tenho que fazer mais. O caos dominando e a desordem na minha mão, eu quero ser mais, tenho que fazer mais. Um véu que me encobre do mundo e eu querendo rasgá-lo com garras, unha e dentes, quero deixá-lo ferido tanto quanto eu, suas feridas curarão as minhas, um véu que me separa da alma, quero união, quero ir mais fundo.

Esses pensamentos que me percorrem desvairadamente e a dor na minha mão que já não acompanha meu peito, eu quero rasgá-lo e na minha miserabilidade rotineira darei um brado que revigorará um exército, um urro de peito, a primitividade bruta e instintiva que me falta, sairei do controle de mim e de minhas pálpebras tão fatigadas, sou a soma do mundo e não terminarei apenas como um adubo de plantas.

E esse caos que não deseja ordem gritando e sonhando, não pense, só acompanhe a minha mão, tenho que ser mais que linhas, tenho que ser 3D e a entrada terá o seu preço aumentado. Não almejo ordem, almejo ritmo. Mais, MAIS.

Já não quero mais somar, quero multiplicar, daqui a algum tempo será uma progressão em exponencial e a porra do tempo biológico me limita. Tudo que é limítrofe é orgânico, tudo que é orgânico, decompõe-se; abrirei os horizontes, rasgá-lo-ei, como os lusíadas, seguirei velejando em tempestades...

Se for inevitável ser nutriente para verme, farei o possível para que eu seja o mais suculento dos vinhos e ele se embriagará por noites devorando minha carne fumegante, pois mesmo depois da morte, estarei eu irradiando vidas.

Volto no tempo e percorro o espaço, sou a gravidade de tudo que já fui e sou, agora posso distorcer o espaço-tempo e optar por ser buraco negro, apesar de desconfiar de já o ser, é absorver, sugar vida, um poeta morto, que mesmo preferindo a morte, devora a vida...

Então pulsa por ser involuntário, mas, de qualquer jeito, involuntário seria, porque até mesmo os suicidas se matam por querer a vida.

Tudo que escrevo são rascunhos inacabados de algo, porque sou um rascunho, porque tu és rascunho e a vida o longo ensaio de uma peça que nunca se realizará e os fortes sobrevivem, mas o sobreviver é um adiantamento, não evita...

O que não me poupa é o antagonismo, que por ser agonia ou anta, vem me visitar com uma sabedoria inculta, não oculta, exposta e a jorrar pus, sabe como é, aquela história toda de sistema imunológico e corpos estranhos.

Rasgaremos o véu, veremos a destruição do sistema solar, as promessas cumpridas e o apocalipse, culminado com o aniquilamento do nosso planeta, tal qual como o conhecemos, porque, como vulcão, toda destruição tem alguma dose de criação.

E a lua sempre estará a salvo.

Um comentário:

  1. Li sem perder nem um pouco o fio da meada. Seu texto é rico em imagem e o vejo como uma pintura que se rasga e tornar a rasgar o véu para se mostrar e aprimorar o que o enleva ou o deprecia. Fiquei contagiado e me emocionei com as belíssimas metáforas: "E a lua sempre estará a salvo." É o que nos restará nesse contexto tridimencional em que a bilheteria tornar-se-á mais cara para esvanecer ideais. Amei seu texto.

    ResponderExcluir