quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Cadeia Alimentar - Pra Manter ou Mudar

“Sou o planeta Terra a observar o seu satélite natural, mas nunca descobrirei o lado oculto da lua, pois giro com ela em torno de mim e de algo maior que também nunca descobrirei, somente sei que um ofusca e o outro obscurece, preto e branco, alfa e ômega, sol e lua.”


Sempre imaginei que soubesse tudo de mim, porque já me procurei dentro de mim e me interiorizei de maneira singular a ponto de olhar no espelho e perguntar quem era aquela pessoa e o que fazia com a minha vida, tolo eu fui, porque se descobrir é achar e reconhecer os seus pedaços nos corpos de outros, porque somos soma ou multiplicação, pelo menos isso está no controle de ser decidido.

E se me perguntarem quem sou não poderei dizer o meu nome, pois seria eu outra pessoa se tivesse um nome diferente? Também não poderia dizer o que sei, porque tudo que eu sei alguém me ensinou? Também não poderia dizer uma música de Chico Buarque, nem um verso de Clarice Lispector.

Sabe o que sou? Sou os restos mortais de algumas somas de cadáveres que serviram de alimento para alguns saprófagos e esse transformaram matéria inorgânica em orgânica para o solo que fornece sais minerais para as plantas que foram digeridas por algum ruminante (aquele que produz gás metano e aumenta o aquecimento global) que foi devorado pela minha mãe em um desses desejos loucos de período de gestação e que me serviu de alimento através da placenta.

E não escolho minha aparência (selecionada pelos genes disponíveis dos meus pais que foram reunidos em dois gametas e, logo, um zigoto), meu nome (selecionado em uma lista de nomes com “M” e escolhido por um devaneio de espírito maternal), o que leio e o que aprendi (limitados por uma época, descobertas, seleções de “cultura” e bases de estudo).

Então o que seria eu, e só, é uma imagem na frente do espelho que de tanto mudar (porque sou mutante), já não me reconheço e pergunto quem é, mas me responde simultaneamente, “eu sou tu e tu és eu” e essas palavras todas não saíram de uma boca apenas, lembro-me que estremeci.

“Não se pode entrar duas vezes em um mesmo rio”, porque quando o entrar de novo sem tu serás o mesmo, nem o rio.

Sou o acaso de umas mortes cardíacas, decompositores, vegetais, animais, desejos, puberdade, Freud, sexo e orgasmo. Sou como tantos outros, mas estou são enquanto vocês dormem. Essa baboseira toda de terceiro olho.

E se és cristão, notarás que somos descendentes do barro e de incestos entre os filhos de Adão e Eva. Se és ateu, acreditas que tudo é o acaso de uma macro explosão. Se és eu, concluirás que independente das teorias de como o mundo surgiu, todos somos efêmeros e diminutos, que não temos lá algo de surpreendente, mas que imaginamos isso por não querermos admitir nossa própria identidade e a falta de objetivos que é tudo isso.

Tu podes-me dizer que és um sentimento, um amor, talvez... Porém tudo o que sentes é pertencente à outra coisa/pessoa que te faz sentir aquilo, então poderias dizer que és a soma/multiplicação/exponencial (depende da frequência) de tudo o que faz os outros sentirem, mesmo sendo sentimentos manipulados ou não, te pertencem e te fazem.

3 comentários:

  1. Também posso ser tudo o que não fiz que sentissem, tudo o que não me pertence e tudo o que não faço. É tudo batida de asa de borboleta.

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  2. Somos o que os outros idealizam, embora muito pouco seja nossa descrição ( quando há uma)!

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  3. As vezes construímos expectativas em cima de grandes pessoas... O tempo passa... E descobrimos que grandes mesmo eram as expectativas e as pessoas pequenas demais para torná-los reais.

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