sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Viúva-Negra



Venho andando, intrepidamente andando, docemente andando... Minto. Simplesmente, ando. Faço isso para alimentar tua fome, leitor.
Mergulharei agora nas teias e fios que me tecem e que teço, pare logo aqui então, se o acaso fez você fraco de vísceras.
Essas palavras intraduzíveis do meu pensamento, molham-no e jamais secam, batem, batem, pingam, espalham-se e escurecem, não querem vir para essas linhas negras, talvez cinzas, porque não sei se o que te escrevo são linhas ou tintas.
Sou uma ponte caminhando ao meu redor, pasmo. Sou uma ponte em duas dimensões, sou ponte. Não, não sou, tu és e não sabe. Costumo ficar aflito com o turbilhão que ora me diz ser tu e ora me diz ser eu, somos intrínsecos e nos confundimos. Crê, infantilmente, estar caminhando sobre a ponte. Estrondo contorcido sonoramente. A ponte é quem caminha sobre ti e a poeira que imagina levantar com os pés, são os excrementos não degustados dela jorrando em ti com puro escárnio. “Ex-carne”.
Então fui ao banheiro. Berrei algumas, enxuguei outras. Preferi ficar admirando aquele espelho, que mais me parecia uma janela, sujo. Não estava vendo minha imagem nele. “Ah, claro... Tenho que ficar de frente para ele, pois ele só enxerga o que está à frente”. Meu reflexo refletido nos meus olhos, que são espelhos, espelhos da alma se refletiam no espelho sujo e nos meus olhos... INFINITO. Pavor. Infinito é nada. Vastidão do ser. Vemos um infinito em todos os olhos. Luziu então a idéia de que o vazio que enxergo não está nos olhos dos outros, está no meu por ser espelho e refletir-se infinitamente no olhar dos outros. Arranco.
Agora cego, é tudo escuro. Bom. No escuro ninguém nota minha janela, que mais me parece espelho, mas está morta. Líquido leitoso nos olhos. Meus olhos brancos, ou seria minha janela? Espelho?, continuam vazios.
Ela assovia nos meus ouvidos e tem um dom, ou maldição, de transformar a mais tranqüila das coisas em sons asfixiantes, que tapam os meus ouvidos, como se fecha uma garganta, só respiro pelos ouvidos e assim morro.
Um, dois, três, vai.
Oh, yeah, baby.
Finco uma faca na minha mão, rasgo o véu do paradigma e meus tecidos, agora a sou, sou faca porque ela está em mim, tenho o poder de penetrar e causar sangue, dor, faço sanguedor, enquanto penetro vejo minha imagem refletida na lâmina e não necessito de olhos para isso, então já não são reflexos, sou eu, imagem real, penetro.

2 comentários:

  1. Mas esse teu texto foi tanta coisa que e fiquei um grande nada no final. Ou talvez nem tenha sido isso tudo, mas o sono não me deixou sentir contigo tudo o que tu foi, o que não foi e o que pensou ser.

    Sei lá, Mardei.

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  2. Tenho esse problema de não me concentrar em algo e esquecer o tema de início, escrevo ao decorrer do pulso, então não tenho ordem, é escrita rudimentar e sem ordem, tosco, é mais rascunho do que texto.

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