terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sujamente


Era ele um irlandês no avião viajando para o Brasil e tinha um volume extra preenchendo a sua calça frouxa, estava com a mão no bolso da calça, como se estivesse a acariciar um bebê, porém com uma brutalidade voluptuosa, com os dedos subindo e descendo...

Estava excitado e ansioso, lembrava que um amigo seu, de aparência rústica e simplória, ao contrário dele que era intelectual e sagaz, havia viajado ao Brasil uma vez no carnaval, viu mulheres praticamente nuas, mulatas com ótimas curvas e que dançavam com o corpo todo, requebrando delirantemente os quadris, algumas usavam saias longas e mesmo assim dançavam cheias de graça e exuberância de prazer, deixando com que a imaginação se fertilizasse e desse muitos frutos aos fetiches.

O irlandês, com quarenta e poucos anos, já havia trilhado por vários corpos e posições, mas nunca ouvira falar de tal gingado, nunca tinha vindo ao Brasil e veio com a intenção de achar o que ele tanto procurava. O sexo para ele virara trivial e não gostava disso. Instruíram-no a procurar uma mulher do mesmo nível intelectual, procurara e achou diversas delas, transava com admiradoras de Picasso, fãs de Freud, adoradoras de Hitler, maestras que reproduziam e endeusavam as sinfonias de Beethoven, mas a nenhum delas se entregara por inteiro e o sexo ficara monótono. Ficou em um grava estado de depressão, se colocasse sua vida em um eletrocardiograma apareciam apenas linhas retas, uma eterna constância mórbida ou até mesmo um eletrocardiodrama, galhofa penosa.

Era a última aposta de sair dos olhos cinza e começar a ver a vida com as suas mais diversas cores vivas, doença parasita de daltonismo social. Havia de achar uma mulata que reanimasse o macaco dentro dele e que mais uma vez sentisse luxúria de bode.

Não queria uma mulata qualquer, queria uma de seios fartos e quadris largos, que despertasse desejo só com o olhar, sabia que era pecado, mas preferia uma efêmera vida de pecador a uma efêmera e hipócrita vida de conservador.

Ele tinha uma fome insaciável, uma sofreguidão inesgotável e até quem o via comprando o passaporte sabia de todos os seus pensamentos sórdidos, disfarçava o riso, até mesmo os mais miseráveis que iam com o mesmo intuito riam, tinham uma imagem a preservar.

Desceu aflito do avião, nem sabia direito onde estava e não falava português, ia alimentando os olhos, mas os seus nervos estavam afoitos, não paravam, não paravam, tinha fome e parecia não se encher.

Enfim foi caminhando por uma rua e “onde estavam as mulatas nuas?”, andou, andou, estava quase desistindo quando, subitamente, em uma esquina, em um lugar retangular, viu muitas mulheres com saias longas, cabelos negros, peles morenas-jambo, lábios carnudos, só estranhou o fato de terem muitas roupas, viu que dançavam jubilosamente, pulavam e festejavam.

Entrou no retângulo e viu as pessoas ficarem de joelhos diante uma imagem de um garoto nu, pensou “súcia de brasileiras pedófilas e safadinhas, se elas se ajoelham diante de uma imagem de um garoto nu, imagino o que devem fazer na frente de um homem real”, sua braguilha abriu de tanta excitação, seria um paraíso, percebeu, mas não tomou atitude alguma, deixava seu corpo equilibrar-se com aquele calor do Brasil, clima demasiadamente afrodisíaco, sentia o alvoroço daquele lugar retangular, a agitação molecular fremia a sua carne.

Ele levantou a cabeça e leu “Protestant Church”, ele sabia inglês, notou que todos olhavam para ele e sua braguilha, viu o Menino Jesus no pedestal, pensou “imagine só os puteiros”.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. HAHAHA'... Comentário engraçado para um texto engraçado.

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  3. VIM COMENTAR HUAIJSHU
    Tudo bem que já tinha lido e já tinha comentado contigo sobre o quanto eu tinha gostado desse texto. Por mais improvável que seja um irlandês achar evangélicas gostosas, mas eu gostei bastante! Explora esse teu lado :D

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